8.12.09

Prefiro ir para o inferno

Era pouco mais de 7 da manhã. Voltando da caminhada matutina, passei no supermercado comprar pão. A fila do "caixa rápido" já estava imensa. Culpa do Lula, dos insaciáveis donos do Walmart e da nossa "cordialidade" brasileira.

Suado, de calção, camiseta e tênis, ninguém imaginaria que ali estava um pastor. Pastor combina com paletó, gravata e barriga com circunferência perigosamente superior a 94 cm.

Além disso, entre a prática esportiva e o ministério pastoral existe o entrave das palavras de Paulo, levadas rigorosamente ao pé da letra pela categoria do cajado: "Porque o exercício corporal para pouco aproveita, mas a piedade para tudo é proveitosa, tendo a promessa da vida presente e da que há de vir." (1Tm 4.8). E haja stress e problemas cardiovasculares.

Enquanto a fila seguia a passos de tartaruga por falta de funcionários nos caixas e empacotadores, uma jovem senhora vira-se para trás e começa a falar com o desconhecido, como se estivesse pensando em voz alta, manifestando preocupação:

- Tô com a impressão de que deixei o fogo aceso. Nessas alturas a panela já deve estar pegando fogo!

Todos ao redor dirigiram seus olhares para ela com certa curiosidade, eu inclusive. O rapaz mais próximo, mesmo com cara de pouca conversa, com a cama ainda nas costas, perguntou:

- Não tem ninguém lá pra desligar?

- Tem não. Saí de casa e não tinha mais ninguém! - respondeu ela, agora na condição de centro das atenções.

Penso que, como eu, todos imaginaram imediatamente a cena da panela no fogão e os riscos e, de certa forma, assimilaram a preocupação dela. O rapaz, educadamente sugere:

- Então, telefona pro vizinho.

Ela, agora com uma imensa platéia de curiosos, responde em alto e bom som, num misto de deboche e ironia:

- Meu vizinho? Huummm! Aquele povo acorda na igreja, passa o dia na igreja, dorme na igreja. E só vive dizendo que vai pro céu! Se eles forem pro céu, eu quero ir pro inferno. Quero estar bem longe daquela gente!

A fila andou, a senhora seguiu seu rumo e eu fiquei matutanto em nossa teologia e testemunho evangélicos.

Edvar Gimenes

8 comentários:

Anônimo disse...

É a verdade dos fatos. Pregamos o que não vivemos. E, muitas vezes, até vivemos o que pregamos, pois o que pregamos está fora do exemplo da caminhada de Jesus de Nazaré.
Lembrei do pastor Ariovaldo Ramos, dizendo que falta em nosso meio integridade. Gosto da definição de integridade que escutei do Ed René Kivitz: "integridade é quando o que penso eu falo e o que falo eu faço".
Que a graça e o amor de Deus inunde nossa caminhada!
Aproveito, também, para elogiar seu blog. Escritos provocadores e relevantes em uma fé nem tão relevante assim.
Abraço! Paz.

Cristina Danuta disse...

Conheço muitos casos similares, infelizmente.

Abraços, Pava.

Anônimo disse...

É, pois é. Só faltou o tal pastor (e todos os outros que estavam na fila) se tocarem que na verdade a mulher estava mesmo querendo é passar na frente de alguém (ou de todos), ou que pelo menos que a fila andasse logo.
Essa negócio de extrairmos devaneios filosóficos quando observamos a chuva caindo na sargeta perto do bueiro e tentando entender o porquê de a barata não conseguir (ou não querer) levantar voo numa hora dessas, é coisa de quem não tem o que fazer, ou não tem em que pensar. Acho que o cansasso causado pela barriga do pastor estava falando mais alto.

At,
Mauro.

Kety Daiana disse...

Achei que a mulher tinha inventado a história da panela, pra ver se alguém cedia o lugar mais próximo ao caixa na fila... Haeaueha.

William Koppe disse...

tbm acho q foi só pra passar a frente, mas faltou a sabedoria de um dizer: vai lá apagar e qdo vc voltar pode entrar na mesma posição hehehe

Robson Lelles disse...

Uma família que vive dentro da igreja e - na perspectiva da vizinha - não tem sequer tempo de se relacionar com os vizinhos... Dependendo do tipo de relacionamento que ela espera de um vizinho, pode ser que ela esteja mesmo certa a respeito da xenofobia dos vizinhos.

O cristão deveria justamente buscar se relacionar com aqueles que ainda não foram alcançados e influencia-los pelo exemplo de vida. Se não há exemplo de convivência, como influencia-los positivamente? Como ele será ganho para o Reino? Pela distância mantida?

Por outro lado, pode ser que a vizinha não seja exatamente o tipo de pessoa com a qual a convivência seja, digamos assim, fácil. Imagine por exemplo uma vizinha espaçosa que passa mais tempo na casa dos outros do que na sua própria casa. Ela deve achar que os vizinhos passam mais tempo na igreja do que o tempo minimamente necessário para que ela mesma se instale na casa deles.

Belo dilema: e a panela queimando em casa...

José Carlos disse...

Os apóstolos e a igreja de Jerusalém estavam dia e noite no servir a Deus, e, também, falavam que após suas mortes iriam morar nos céus. As velhas até na primitiva igreja davam trabalho, haja vista o que Paulo flou a Timóteo - Mas rejeita as fábulas profanas de velhas caducas (1 Tm. 4:7 ARA). Velha caduca! Essa é boa!!

Juan Moreno disse...

Não dou muito crédito pra quem grita na padaria às 7h00 da manhã... Ela só queria atenção ou ir direto pra boca do caixa... Provavelmente seus vizinhos devem tê-la chamado pra ir à igreja ao invés de ficar falando mal dos outros... huahsuahsuhasu...

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