21.12.09

A propaganda entre a fantasia e a realidade

Consumidores relatam descontentamento após se iludirem com as altas promessas da publicidade

Durante sete anos, um homem acreditou piamente que as mulheres cairiam aos seus pés graças ao desodorante Axe. Mas o efeito devastador da fragrância nas garotas, que se jogam aos pés dos modelos que usam o produto nas propagandas, não se comprovou. Sentindo-se lesado, ele resolveu processar a Unilever, dona da marca, e pedir R$ 65 mil para se recuperar do desgaste de esperar mulheres que nunca chegaram. Esta é a história do indiano Vaibhav Bedi, de 26 anos, que abriu o processo recentemente.

“Os ingênuos existem, mas ele é tão panaca que não merece pegar mulher nenhuma”, diverte-se o publicitário Washington Olivetto. Ainda assim, o tal “efeito Axe” aguardado por Bedi é um exemplo da aura fantasiosa que algumas campanhas publicitárias criam para conquistar o consumidor. E dá certo. Mesmo acostumadas ao bombardeio de propagandas, muita gente se deixa seduzir por suas altas promessas.

O estudante Enrico Brunetti Bovo, de 24 anos, por exemplo, cedeu ao apelo da frase “viver sem fronteiras” da operadora TIM. Ao se mudar para Itanhaém, “as fronteiras” começaram a aparecer. “Vira e mexe, some meu sinal. Acreditei que essa frase tinha a ver com o fato de eu poder utilizar meu telefone onde quer que estivesse. No Brasil e fora dele”, diz. “Achei que pudesse ir até o inferno falar com o capeta”, brinca. E olha que ele cursou propaganda e marketing. “Não sou totalmente ingênuo, mas a gente acaba acreditando.”

De acordo com o código do Conselho Nacional de Autorregu­lamen­ta­ção Publicit­ária (Co­nar), as propagandas podem sim conter um lado fantasioso, já que “a publicidade não se faz apenas com fatos e ideias, mas também com palavras e imagens”. O advogado Josué Rios, especializado em direito do consumidor, confirma. “A fantasia em si não é proibida, mas há uma condição. O telespectador médio tem de ver ali algo engraçado e fantástico.” Caso contrário, segundo ele, a propaganda é passível de reclamação.

O consultor e professor de design e comunicação Delano Rodrigues, de 37 anos, não reclamou oficialmente, mas ficou frustrado por acreditar demais no que ouve. Em 2006, o “feito para você”, do Itaú, o levou a acreditar que poderia fazer qualquer tipo de ajuste nos serviços oferecidos pelo banco. Mas bastou pedir uma alteração em sua conta para a história mudar. “Com o slogan, eles prometiam uma capacidade de adaptação (ao correntista) independentemente do tipo de cliente”, conta Rodrigues.

Um ano depois, o consultor confiou em mais uma frase forte. Dessa vez, da empresa de telefonia Oi, que o seduziu com o simpático “Simples Assim”. “Eu havia pedido uma linha empresarial, mas me solicitaram tantos documentos que demorou muito para sair”, diz. “Hoje, escuto mais o que as pessoas falam dos produtos do que a marca.”

Não é o caso da designer Cinthia Ferreira, que continua a acreditar que os produtos de maquiagem podem deixá-la com a cara das modelos. “Sempre caio nessa.” Ela já acreditou que ficaria com os cílios 400% mais volumosos e com os lábios mais grossos. Mas não se arrepende. “Por mais que eu saiba que não é real, quem não quer ficar com a boca da Angelina Jolie?”

fonte: Portal RPC

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