Fui vestida para matar, receando assustar o moço. Não gosto de decotes, mas meus seios se mostravam com vida própria. Esperei na calçada de casa, feliz por não encontrar nenhum conhecido.
Quando me viu, o cara estava tão nervoso que piscou para o carro e olhou para mim. Era um big de um carrão. Zero, caro, lustrado como um peito de estátua. Pelo tamanho do auto, imaginei que ele fosse me levar para jantar no Waldorf-Astoria. Mas me levou para comer no Drive thru. É, isto mesmo, a gente fez um lanche no auto. Reclamei, mas ele me disse que faríamos um pick nick e cedi. Verdade que o sujeito não economizou. Pagou tudo o que eu queria, sanduíche, sunday, milk shake, fritas, tudo large, tamanho família. Eu lhe disse que meu sobrinho adorava os brindes ganhos nos lanches e ele não hesitou. Pediu cinco tipos diferentes, para dar ao garoto e me deixou cheia de lembrancinhas. Pagou a conta alta com o cartão de crédito como quem paga cigarros. American Express. Passamos uma hora a rodar pela cidade, o carro seguindo pelas ruas sem destino, o câmbio roçando minha perna toda a hora e eu me fazendo de desentendida. Estacionou na pracinha do Por do Sol e, pela vista panorâmica, me lembrei de que estava em São Paulo. O moço argumentou que fazia uma noite quente e era bom ficar ao ar livre com moradora da Vila Madalena. Achei espirituoso e, como estava naqueles dias em que um chaveiro escrito oi comovia, fiquei tocada. Os beijos esquentaram e eu preferi o ar condicionado. O carro saiu cantando os pneus. Ao invés de me levar a um motel, me levou a um Drive in. Drive in!? Ninguém mais vai a um Drive in! Fiquei ofendida. Se ele posava de burguês, por que achava que podia ser diferente com a mamãe aqui? Usou um argumento demolidor: um quarto de hotel era impessoal. Sabem como é, né, garotas? Nesta montanha russa – ou roleta? - que é a vida amorosa, na hora da subida é salto alto, na descida, é precipício. A fila anda e a gente ri com arrogância, no topo, ri com humildade, na queda, grita como uma serial vítima e não enjoa quando o ciclo já passou. E a gente aceita ir de um drive thru a um drive in. In thru. Lá estacionados, pensei que a história do drive fosse ter fim, mas ele colocou um cd no disc drive de seu carro. Claro que o automóvel não tinha um aparelho de som, tinha um computador. Colocou uma música bate estaca para matar vampiro da noite e parecia se deleitar com a música, enquanto berrava o refrão I never wanna die. Eu me perguntando, pra quê? Sente só o som, ele suspirou. Quatro caixas acústicas e oito tweeter.
Não aguentei mais. Virei para ele e lhe perguntei se aquela era a sua primeira vez. Ele: não, saiu da loja faz alguns dias já.
Cecília D’Ávila, 3a colocada do concurso de crônicas do Blônicas.
2 comentários:
hahahahaha ótimo o texto. Não sabia que existia esses concursos.
Sensacional.. também não sabia.
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