31.1.10

Ao brincar de Deus, Lula se dá conta de que é mortal

O presidente não gosta da rotina de Brasília. A idéia de acordar, pendurar uma gravata no pescoço e ir ao Planalto para receber, digamos, Edison Lobão o aborrece.

Dono de popularidade alta e de discurso baixo, Lula prefere a eletricidade proporcionada pelas multidões à frieza das audiências individuais.

Sua praia é o palanque. A visão das platéias hipnotizadas o conduz a um plano superior. Agrada-o a sensação de espectadores que o veem como um Deus.

Lula aceita o papel. Gostosamente. À medida que se aproxima do final, seu governo vai virando um grande comício. No discurso de quarta-feira, aquele em que celebrou o fato de que o FMI lhe deve, Lula exagerou. Brincou de Deus.

Inaugurava um posto de saúde em Pernambuco. A alturas tantas, fez uma pilhéria premonitória: “Dá até vontade de a gente ficar doente para ser atendido aqui”.

Adoeceu. Não foi à cama do “seu” estabelecimento. Levaram-no, obviamente, a um hospital de primeira linha, mais condizente com sua condição de presidente.

Lula atravessou uma dessas experiências que dão aos (falsos) deuses a incômoda sensação de finitude.

Foi como se Deus –o autêntico, o genuíno –soprasse nos ouvidos do seu genérico: “Não desperdice a popularidade que Eu te dei. Aproveite o seu tempo...”

“...Celebre os acertos, reveja os erros. Respeite as diferenças. Não apequene sua grandeza. Reaprenda a saborear as delícias da humildade!”

trecho de post no blog do Josias de Souza

2 comentários:

Raul Vinhas disse...

Josias esta muito sério. Temos um presidente que não faz o joguinho de seriedade, algo hipocrita, das classes mais educadas e que se levam a sério só prá consumo externo. Lula introduziu no jogo do poder a brincadeira, este nosso típico esculacho. Além disso, Josias dá a falsa ideia de que Lula não trabalha, uma idiotice, pergunte aos ministros de quem é sempre a decisão final dos grandes projetos. Presidente dá linha, coordena e cobra rsultados.

Thiago disse...

Com todo respeito; não é porque Josias diz que Lula brinca de Deus que Lula brinca de Deus.
E uma doença não é uma advertência. Essa idéia vem do mesmo cerne das idéias ridículas de que Deus envia doenças para punir. Afinal, punir e ensinar são quase sinônimos para muitos crentes.
Como disse Raul, o Lula gosta é de um sarro. Ama palanques sim, mas porque sempre amou o povão.
Não se enganem. Muitos discursos de engravatados que nasceram em berço de ouro, falando que amam o povo e em época de eleição beijam crianças ranhentas da periferia são pura demagogia. Lula não; Lula nasceu com o povo, Lula é como o povo.
Só as classes mais altas se preocupam com coisas supérfulas como excelência na dicção e coerência entre exemplos. O povo, povão mesmo, quer alguém que fale a própria língua, e que às vezes é toda errada, cheia de paixão e idéias caricatas.
Esse é nosso presidente, o melhor que o Brasil já teve.
Mas parece que a galera sente falta dos "certinhos", no estilo Fernando Collor e FHC. Pessoas que sabem fazer uma política tete-a-tete, letrados, homens de muitas palavras, e que, mais importante que tudo, nunca se arvoraram como Deus em seus palanques.

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