“O que faz andar a estrada? É o sonho. Enquanto a gente sonhar a estrada permanecerá viva.É para isso que servem os caminhos, para nos fazerem parentes do futuro.”
Tuahir, personagem de Mia Couto, em Terra Sonâmbula
“É da vocação da vida a beleza
e a nós cabe não diminuí-la, não roê-la
com nossos minúsculos gestos ratos
nossos fatos apinhados de pequenezas,
cabe a nós enchê-la,
cheio que é o seu princípio
"A vida não tem ensaio mas tem novas chances…"
Elisa Lucinda
Bebês choram. O entendimento popular é que chorar é a linguagem deles, é a comunicação, e um dos principais meios de que o recém nascido dispõe para dizer o que sente.
Recém nascidos choram um bocado, e se sentem com muitos motivos para chorar.Alguns pediatras entendem que o choro pode expressar necessidade ou protesto, mas, surprendentemente, alguns choros podem ser mais pelo prazer de fazer barulho. É isso mesmo: mais tarde, o que se fala pode ser mais pelo prazer de ouvir a própria voz do que pelo desejo de comunicar algo.
Mesmo assim, na maior parte das vezes o choro significa uma mensagem pra a mãe, dizendo que o bebê precisa de algo.Pode ser fome. Ou alguma dor. Indigestão, cólica? Está doente, sente muito frio ou muito calor? Sente-se solitário, amedrontado, cansado?
Parece algo difícil de decifrar no início, mas, felizmente, o próprio bebê procura ajudar. Os movimentos com que acompanha o choro ou o modo como chora podem dar a chave. Se o bebê choraminga, abre a boca de vez em quando e vira a cabeça para a mãe, provavelmente está querendo dizer que deseja mamar. Se há fortes cólica intestinais, ele pode encolher as perninhas e soltar gases. Aos poucos, a mamãe ou a pessoa que cuida do bebê começa a distinguir as chaves e as diferenças de cada choro.
Não pretendo fazer um tratado sobre o choro. Estou pensando nos contrastes. O contraste entre o que éramos e em que nos tornamos mais tarde.Notou que quando crescemos e passamos a viver no “mundo dos adultos” temos tanta dificuldade em chorar? E quando o fazemos, necessitamos de justificativas a respeito?
Parece que aos poucos desaprendemos algo que já foi tão natural. A aquisição da linguagem não deveria excluir o choro, até porque nem sempre o que dizemos corresponde ao que queremos dizer ou o que realmente pensamos.
Mas a vida é maravilhosa. Ela nos reensina, dá novas chances. Em tempos de dor se reaprende a chorar. Quando achamos que nosso coração já está endurecido, olhamos ao redor e nos comovemos com a dor alheia. Penso agora na catástrofe do Haiti, nas pessoas de lá, seus gritos, suas perdas.Não posso deixar de chorar por eles, pela fragilidade de tudo isso, pelo sofrimento físico e mental gigantesco que passam.
Preciso reaprender a chorar porque sou humana, e minha pele e meu coração não podem se acostumar ao que assola por aí. Preciso chorar para não me conformar e criar explicações fáceis e simplistas. Preciso chorar para não aceitar dogmas e determinismos. Preciso chorar para manter viva minha inquietação diante a injustiça, e chamar o mal de mal, e o bem de bem, e não confundir um com o outro.
Chorar não é fraqueza. É uma espécie de força, e nossa comunicação também com Deus. Quando faltarem palavras,quando a dor for absurda, quando não se souber a resposta, quando se precisar acalentar a própria alma, reaprenderei a chorar. Ainda mais: ao chorar, serei capaz de viver com intensidade o conteúdo do que se apresenta diante de mim. A isso se chama contentamento.Não uma felicidade inatingível,utópica, mas a possibilidade de viver com integridade.
Tenho me inspirado no Ricardo Gondim: ” Não, não ofereço todas as respostas para a morte estúpida e desnecessária de mais de cem mil almas…Continuo disposto a provocar novas inquietações e a suscitar novas perguntas. Se não conseguir esclarecer coisa alguma, pelo menos vou me despedindo das respostas simplistas de outrora. Para mim, isso será suficiente.”
Helena Beatriz Pacitti, no Timilique!
Um comentário:
Paz...
É, sem sonhos a vida morre. Se não morre perde o sentido. E vida sem sentido, é vida sem vida!
Os grandes patriarcas da Bíblia sonharam muito, e chegaram ao sonho das realizações.
No mais... Paz!
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