17.2.10

Chatamente correto

Uma organização politicamente correta iniciou uma campanha contra Angeli, o grande cartunista da Folha de S.Paulo, por causa de uma tirinha de quadrinhos em que uma mulher apanha. Num quadrinho, a mulher se queixa: "Mário, há anos que você não me toca!" No quadrinho seguinte, porrada. No terceiro, "Pronto! Não tem do que reclamar". A campanha vem embalada no slogan "Violência contra a mulher, não tem graça nenhuma", desse jeito mesmo, com a violência contra o idioma; e diz que a tirinha é "lastimável, inadequada e violenta".

Abre-se caminho, assim, para uma série de campanhas politicamente corretas. Vamos fazer com que Dik Browne mude os hábitos de Hagar, o Horrível, que bebe demais, está acima do peso, detesta a sogra e saqueia os países vizinhos. E não é possível tolerar o que o desenhista Jim Davis faz com Garfield – que come lasanha, alimento inadequado para gatos, não faz exercícios, bate no cachorro Oddie e rouba a comida de seu dono. Horror, horror, horror! Bill Waterson estimula Calvin a brincar com um amigo imaginário, Haroldo, um bichinho de pelúcia que ele imagina ser um tigre, um feroz predador!

Cascão precisará tomar banho, claro. Que exemplo o nosso Maurício de Souza quer dar às crianças chatamente corretas? A Mônica deve ir ao dentista o mais rápido possível e perder seu feio hábito de bater nos meninos. Que tal nossa Moniquinha com sapatos de lacinho, vestidinho cor-de-rosa e uma margarida nas mãos, no lugar do coelhinho? Aline dividindo a cama com seus dois namorados, nem pensar. E Valentina, de Guido Crepax, dando sem parar?

Os amigos do politicamente correto que perdoem este colunista, mas há certas lembranças que funcionam como lições de História. Os nazistas acusavam o Super-Homem de ser judeu (como terão feito a circuncisão em seu pênis de aço?).

Vamos querer a patrulha ideológica de volta, para que comics expressem um pensamento único? Não é mais simples e democrático deixar de acompanhar as histórias em quadrinhos que consideremos inadequadas? Ou vamos exigir que os amiguinhos Batman e Robin dispensem o mordomo Alfred, que não tem hora de folga nem dia de descanso, e se mudem para um local mais ventilado e menos insalubre do que a Batcaverna que hoje dividem com aquele Batcarro poluidor?

Carlos Brickmann, em Observatório da Imprensa.

eta povinho chaaato...

5 comentários:

Chicco Salerno disse...

Puxa-saco, formiga e chato tem em qualquer lugar. Desconfio que até no Céu...

Será que eu vou poder escolher a localização de minha mansão/meu lotezinho celestial?

Espero passar a eternidade longe deles.

Unknown disse...

Essas ações, no meu ver, são tomadas por pura falta do que fazer, ou melhor, falta de vontade de fazer, ja que tem tanta coisa mais urgente e importante pra ser defendida. Concordo contigo, simples e prático deixar as tirinhas que desagradam... e passar a defender causas que realmente são urgentes.

Alessandra disse...

é,mas que a primeira impressão que tive da ''tirinha'' exibida acima,foi amargosa-antes mesmo de ler o post-foi...não teve graça nenhuma.Perdõem-me a chatice..

Gabriel Moreira disse...

Não achei chatice não. Com Hagar é bem diferente, Garfield também. Violência a mulher é algo muito mais complicado, e certas coisas perpetuam um senso comum a cerca desses temas.
Acho que uma advertência seria algo positivo, mas de forma alguma questionar a grandeza de um cartunista com Angeli, que criou muitas personagens incríveis.
Abraço!

João Carlos disse...

A ponte entre esta tirinha do Angeli e as demais mencionadas é sensacional! Quero ver meter o pau no Mauricio de Souza e a Monica-espancadora de amigos!

Pena que hipócritas tem suas visões estreitadas pelos cabrestos que usam.

É isso! Ou não! Sei lá! rsrs

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