Uma organização politicamente correta iniciou uma campanha contra Angeli, o grande cartunista da Folha de S.Paulo, por causa de uma tirinha de quadrinhos em que uma mulher apanha. Num quadrinho, a mulher se queixa: "Mário, há anos que você não me toca!" No quadrinho seguinte, porrada. No terceiro, "Pronto! Não tem do que reclamar". A campanha vem embalada no slogan "Violência contra a mulher, não tem graça nenhuma", desse jeito mesmo, com a violência contra o idioma; e diz que a tirinha é "lastimável, inadequada e violenta".
Abre-se caminho, assim, para uma série de campanhas politicamente corretas. Vamos fazer com que Dik Browne mude os hábitos de Hagar, o Horrível, que bebe demais, está acima do peso, detesta a sogra e saqueia os países vizinhos. E não é possível tolerar o que o desenhista Jim Davis faz com Garfield – que come lasanha, alimento inadequado para gatos, não faz exercícios, bate no cachorro Oddie e rouba a comida de seu dono. Horror, horror, horror! Bill Waterson estimula Calvin a brincar com um amigo imaginário, Haroldo, um bichinho de pelúcia que ele imagina ser um tigre, um feroz predador!
Cascão precisará tomar banho, claro. Que exemplo o nosso Maurício de Souza quer dar às crianças chatamente corretas? A Mônica deve ir ao dentista o mais rápido possível e perder seu feio hábito de bater nos meninos. Que tal nossa Moniquinha com sapatos de lacinho, vestidinho cor-de-rosa e uma margarida nas mãos, no lugar do coelhinho? Aline dividindo a cama com seus dois namorados, nem pensar. E Valentina, de Guido Crepax, dando sem parar?
Os amigos do politicamente correto que perdoem este colunista, mas há certas lembranças que funcionam como lições de História. Os nazistas acusavam o Super-Homem de ser judeu (como terão feito a circuncisão em seu pênis de aço?).
Vamos querer a patrulha ideológica de volta, para que comics expressem um pensamento único? Não é mais simples e democrático deixar de acompanhar as histórias em quadrinhos que consideremos inadequadas? Ou vamos exigir que os amiguinhos Batman e Robin dispensem o mordomo Alfred, que não tem hora de folga nem dia de descanso, e se mudem para um local mais ventilado e menos insalubre do que a Batcaverna que hoje dividem com aquele Batcarro poluidor?
Carlos Brickmann, em Observatório da Imprensa.
eta povinho chaaato...
5 comentários:
Puxa-saco, formiga e chato tem em qualquer lugar. Desconfio que até no Céu...
Será que eu vou poder escolher a localização de minha mansão/meu lotezinho celestial?
Espero passar a eternidade longe deles.
Essas ações, no meu ver, são tomadas por pura falta do que fazer, ou melhor, falta de vontade de fazer, ja que tem tanta coisa mais urgente e importante pra ser defendida. Concordo contigo, simples e prático deixar as tirinhas que desagradam... e passar a defender causas que realmente são urgentes.
é,mas que a primeira impressão que tive da ''tirinha'' exibida acima,foi amargosa-antes mesmo de ler o post-foi...não teve graça nenhuma.Perdõem-me a chatice..
Não achei chatice não. Com Hagar é bem diferente, Garfield também. Violência a mulher é algo muito mais complicado, e certas coisas perpetuam um senso comum a cerca desses temas.
Acho que uma advertência seria algo positivo, mas de forma alguma questionar a grandeza de um cartunista com Angeli, que criou muitas personagens incríveis.
Abraço!
A ponte entre esta tirinha do Angeli e as demais mencionadas é sensacional! Quero ver meter o pau no Mauricio de Souza e a Monica-espancadora de amigos!
Pena que hipócritas tem suas visões estreitadas pelos cabrestos que usam.
É isso! Ou não! Sei lá! rsrs
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