A fisioterapeuta Larissa (Patrícia Carvalho-Oliveira) não faz só massagens na tetraplégica Lu-ciana (Alinne Moraes). Sempre que ela surge em Viver a Vida, o espectador pode esperar algum conselho luminoso. Quando Luciana se mostra revoltada com a perda dos movimentos, Larissa a conforta: "Meu amor, vou repetir para você: espere. O tempo vai lhe dar a resposta".
Ao eleger a "superação" como tema, o autor Manoel Carlos acabou produzindo uma novela de autoajuda. "Parto do princípio de que não existe beco sem saída", diz ele. O enfoque não se limita aos depoimentos de gente sofrida no final dos capítulos. Na internet, a equipe do noveleiro mantém um blog em que Luciana dá lições de perseverança (detalhe: as pessoas deixam comentários e perguntas como se a personagem fosse de carne e osso). Mas é a fisioterapeuta quem melhor sintetiza esse espírito, digamos, motivacional.
Na condição de preparadora do elenco (sua função original - e que a levou a obter a ponta como atriz), Patrícia auxilia as estrelas da novela a "se encontrarem". Como uma Deepak Chopra de saias, ela se vale de um método que mistura teatro, alquimia e física quântica. "Energia gera forma e forma gera energia. Para atingir a vibração vital, os atores têm de se localizar nesse fluxo louco", diz. Muito louco.
Embora Manoel Carlos garanta nunca ter lido um livro de autoajuda, há semelhanças notáveis entre as situações do folhetim e essas obras - que compõem um filão editorial robusto, com mais de 50 000 títulos disponíveis nas livrarias. As conversas de Luciana com a mãe, Tereza (Lilia Cabral), parecem ecoar a ficção espírita de Zibia Gasparetto.
No hospital, a médica Ariane (Christine Fernandes) soa como os camaradinhas espirituais Chalita e padre Fábio - autores do best-seller Cartas entre Amigos - quando oferece apoio ao marido de uma paciente com câncer (consolo nada desinteressado: ela está é doida para tomar o lugar da mulher). "O Manoel Carlos está se esmerando em oferecer instrumentos terapêuticos aos espectadores", constata um profissional do ramo, o psiquiatra Roberto Shinyashiki, autor de Você - A Alma do Negócio.
O trabalho de Patrícia, pessoa física, é a prova de que a autoajuda desconhece fronteiras de gênero (e de piração). A carioca de 35 anos se descreve como uma "mulher multimídia e multifuncional". É autora de 3 - Um Romance para Ler de uma Só Vez, história sobre um casal narrada numa toada fragmentária (e com certo tom de aconselhamento sentimental). Para divulgar o livro, lançado de forma independente, a moça comparece a livrarias usando um vestido de noiva. A certa altura, arranca a cauda do vestido e, leve e solta, engata uma performance poético-robótica. "Quero passar uma mensagem de resgate do romantismo: amem-se profundamente", diz.
E ela é o guru dos bastidores. O ibope da novela é capenga e os atrasos de Manoel Carlos na entrega dos roteiros exasperam os atores - mas estes sempre terão Patrícia para lhes dar consolo. Ela estabeleceu seu cacife ao monitorar a atriz Larissa Maciel, novata na Globo, como a cantora Maysa na minissérie homônima. Seu método, o Lupa, pretende "ampliar a realidade do ator" (daí o nome: a lupa amplia, entende?). O Lupa se baseia na velha noção alquímica das quatro forças da natureza, terra, fogo, água e ar. "Quando Maysa cantava, seu olhar penetrante era reflexo da força da água. O pescoço também era água.Trabalhei essa energia na Larissa", diz.
Patrícia repetiu a técnica com atores de Viver a Vida como Mateus Solano, intérprete dos gêmeos Jorge e Miguel. "Jorge é terra total. Já o Miguel está mais para o fogo e a água", avalia. Jayme Monjardim, diretor de Maysa e de Viver a Vida, foi quem apostou na preparadora - e apadrinhou sua conversão em atriz, depois de ela passar meses treinando Alinne Moraes como tetraplégica. Patrícia, de quebra, já tinha auxiliado a cantora Tânia Mara, mulher do diretor, num esforço de "libertação da voz". Para a autoajuda, não há mesmo becos sem saída.
fonte: Veja
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