9.2.10

O ativismo on-line é para preguiçosos

O cético pensador radicado nos EUA diz que as campanhas da web não resolvem nada

Salvem as baleias do Ártico e as crianças africanas. Petições assim circulam na internet em busca de apoio às causas mais diversas. Você pode jamais ter assinado uma delas – mas sua caixa de correio com certeza já recebeu inúmeras. A revolta virtual que motiva campanhas assim pode aliviar a consciência, mas não resolve nada. É o que afirma o pensador bielorrusso Evgeny Morozov. Pesquisador da Universidade Georgetown, nos Estados Unidos, ele até criou um termo para descrever as campanhas que tentam mobilizar as pessoas por meio da web. É o slacktivism (algo como ativismo preguiçoso, em português). Na opinião de Morozov, que defende suas ideias no blog Net.effect, essa onda contagia as pessoas que têm preguiça de se envolver em causas, mas são ansiosas por se sentir ativas.

ÉPOCA – Que mudanças a internet trouxe para o ativismo?
Evgeny Morozov –
Ela reduziu muito os custos de publicação e tornou mais fácil encontrar apoio, mas isso não quer dizer muita coisa. Quem garante que esses apoiadores serão realmente úteis ou estarão dispostos a ir às ruas? Da mesma forma que a rede diversifica o ativismo, ela também sofistica a vigilância e o controle. Os protestos são identificados mais rapidamente, as autoridades também reagem com mais prontidão. No passado, os ativistas tinham de tomar cuidado com os canais usados para se comunicar. Hoje, a comunicação é feita em espaços públicos, como o Twitter e o Facebook. Não é que o ativismo on-line não possa ser eficiente, mas os protestos ficam prejudicados se o alvo souber tudo de antemão.

ÉPOCA – Como você se interessou pelo assunto?

Morozov –
Trabalhei para a ONG Transitions Online, que promove a liberdade de imprensa na ex-URSS e no Leste Europeu. Comecei com um blog, cobrindo como a nova mídia modifica não só a política, mas a vida social e cultural de meu país, a Bielorrússia. Acabei diretor de novas mídias da ONG, o que me fez passar três anos viajando pela ex-URSS. Ensinava ativistas, jornalistas e políticos a usar a rede para atrair pessoas e conscientizá-las sobre as causas que defendíamos.

ÉPOCA – E por que se desencantou?

Morozov –
Em dado momento, eu me tornei cético. Como isso tudo iria gerar resultados? Resolvi ser mais realista, tentei entender se a web exercia real impacto sobre a democratização ou se ela deixava tudo mais lento.

ÉPOCA – O caso das eleições iranianas, em que o Twitter teve papel fundamental nos protestos, não é uma prova de que a tecnologia promove reações?

Morozov –
Sou cético quanto ao papel do Twitter nisso tudo. No caso iraniano, é difícil dizer se a tecnologia foi a força motora das manifestações ou se foi o pano de fundo. Numa situação como aquela, é natural que se queira registrar o que está acontecendo. Mas falta embasamento à ideia de que a tecnologia leva as pessoas a se rebelar, a organizar uma revolução.

ÉPOCA – O levantamento de fundos para campanhas humanitárias não é um ponto a favor do ativismo on-line?

Morozov –
Se o ativismo on-line fosse voltado apenas para levantar fundos, eu seria seu defensor. Mas sua razão de ser hoje é a assinatura de petições e a participação em comunidades do Facebook. É preciso participar da vida política se quisermos mudanças. Meu problema com o ativismo preguiçoso (o slacktivism) é que ele não tem foco. A comunidade “Salvem as crianças africanas” do Facebook tem 1 milhão e meio de pessoas e só juntou US$ 10 mil, menos de 1 centavo por pessoa. Se o foco deles fosse conseguir dinheiro, eles poderiam ser eficientes. O problema é que eles fazem um zilhão de coisas, todas elas muito mal. Leia +.

fonte: Época

Um comentário:

Chicco Salerno disse...

Então ele deveria abandonar a net também, na qual defende seus postulados... isto também é ativismo, ou não é?

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