O Machismo e o Patriarcalismo
Sempre houve discriminação contra a mulher. O Primeiro Testamento mostra várias restrições com relação à participação da mulher na vida ativa da comunidade da época. A partir de Jesus, o panorama mudou radicalmente.
Para Sócrates, a mulher era um ser estúpido e enfadonho.” Buda não permitia nem que seus seguidores olhassem para as mulheres. No mundo pré-cristão, as mulheres quase sempre não passavam de servas mudas. Ainda hoje, no mundo muçulmano, as mulheres não têm voz nem ação. A situação da mulher na sociedade atual, continua sendo discriminatória. Hoje as formas de domínio são diferentes. A força econômica e social, muitas vezes política, faz com que a mulher sofra as conseqüências de uma sociedade que a considera como objeto de cama e mesa.
O machismo é tão antigo quanto o é o Primeiro Testamento e tem triunfado até os nossos dias. Segundo os judeus do Primeiro Testamento, foi Moisés quem escreve a Torá. Partindo aí, para eles, todos os acontecimentos e ensinamentos foram dados por Deus. Quando o Gênesis foi escrito, a sociedade eminentemente patriarcal certamente não poderia ter outra visão a não ser da prática social da dominação do homem sobre a mulher. Esta realidade está evidente no Gn 3, 16, quando diz textualmente: “a paixão vai arrastar você para o marido, e ele a dominará”.
O primeiro pensamento que nos invade é uma pergunta. Será que Deus poderia permitir tal barbaridade ou sê-la a Ele atribuída? A mulher é ou não dona de seus sentimentos e de sua sexualidade, porque teria de se arrastar para o marido? A palavra “dominará” vem de “dominus”, que quer dizer “dono”. Então a mulher é um objeto, que pode ser comprada e vendida pelo homem. Esta prática ainda vigora até hoje em certos países e culturas, principalmente entre os povos árabes.
Cristo condena o adultério para salvaguardar a mulher desta vergonha de ser objeto para se possuir ao bel prazer. No adultério era somente a mulher que era condenada, não porque ela fizesse sexo com outro homem, mas porque era propriedade do outro. Era roubo e não pecado sexual. E o que assusta é que muita gente, ainda em nossos dias, defende esta barbárie como sendo desígnio de Deus.
Há grandes movimentos e busca de conscientização por parte das mulheres na luta para uma igualdade e uma nova mentalidade relacional entre mulheres e homens. Algumas religiões estão partindo para uma nova concepção teológica da mulher, inclusive admitindo-as às funções antes somente dadas aos homens. Já há várias pastoras luteranas e sacerdotisas na igreja anglicana.
Em contrapartida, há ainda muita resistência, inclusive apologias a favor do machismo patriarcal veterotestamentário, defendidas por pastores, padres e bispos e muitos outros mal informados e de mentalidade unilateral e reduzida da Bíblia. Quem sabe não seria necessário pedir perdão às mulheres pelas atrocidades cometidas pelas religiões e igrejas? A discriminação, da qual a mulher ainda é vitima, é sinal da incompetência psicológica e social. Como é que se pode admitir discriminar as filhas de nossos filhos? As mulheres e homens não são frutos do mesmo amor, com a mesma origem e a mesma finalidade, a vida eterna? Mas por causa da “inspiração” da Bíblia, o Espírito Santo leva tantas culpas que ele nem mesmo sabe o porquê?
O castigo de Eva é tão trágico e ridículo. Sofrimento na gravidez, dor no parto e completa dominação do homem sobre a mulher, não tem sentido, pois os animais também sofrem na gravidez e no parto, mas eles não podem pecar. Como se explica isso? Se a mulher recebeu como castigo as dores do parto como resultado do pecado, como se explica as dores dos animais? Esta discriminação da mulher está presente em quase todas as páginas da Bíblia. Homens que compravam e vendiam mulheres; homens que as matavam a pedradas, se andassem com outro homem, enquanto eles podiam ter quantas quisessem. E Deus leva a culpa, por causa da tal “inspiração” de tudo que foi escrito?
Santo Agostinho afirma que “Deus nos é mais íntimo que o nosso próprio íntimo”. Daí podemos concluir que a mulher também tem no mais íntimo do seu âmago o mesmo Deus dos homens. Então será que o Deus dela não é o mesmo que dos homens? Será que o Deus das mulheres é dominado pelo “Deus” dos homens? Se Deus é o criador e está no íntimo de ambos, então não há distinção de superioridade e proeminência de um sobre o outro. O que há são as funções de gênero que determinam a diferenciação.
Aqui podemos parafrasear a velha pergunta filosófica; quem existiu primeiro, o ovo ou a galinha? Quem existiu primeiro o homem ou a mulher? Podemos afirmar que a galinha existiu primeiro, pois ela já é ato, enquanto o ovo ainda é uma potência para ser galinha. O ovo nasce da galinha, então a galinha existiu primeiro para que pudesse nascer um ovo. Será que não foi a mulher que existiu primeiro? Se Maria concebeu sem a ação do homem, pois se está escrito e nós assim o cremos sobre a encarnação de Jesus (cf. Lc 1, 26-38), Deus não poderia ter criado primeiro a mulher? Tire as suas conclusões.
No Gênesis narra que Deus tudo criou e foi o Ruah, (o vento, hálito, sopro, espírito vital) de Deus que vivificou toda a criação. A palavra hebraica “ruah” é feminina, mas foi traduzida para o grego na Bíblia da Setenta (Grega) para “pneuma”, do gênero neutro e para o latim como “spiritus” do gênero masculino. Como podemos observar o ruah fez uma longa transformação de gênero. Por que será? Quem nos dá e gera a vida? O útero da mulher! Quem está presente e vivificando a Igreja ainda hoje? Muitos afirmam que é o Espírito Santo. Mas o Espírito Santo, segundo a origem da palavra Ruah, é feminino. A própria palavra Igreja é feminina. É ela que está presente e é educadora dos filhos e filhas dela. Se ela é mãe e geradora de novos fiéis, então podemos concluir que ela é guiada e animada pelo Espírito Santo. Logo o Espírito Santo é feminino. Deus é Pai-Mãe.
Padre Elmo Heck
dica do Fabio Pereira
3.3.10
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8 comentários:
Sabe que o texto começou bom...
...mas terminou uma droga! Que heresia!!
Muito bom o texto! Concordo em grande parte com o autor, pois precisamos de fato repensar o papel da mulher em todos os aspectos da sociedade, inclusive, na esfera religiosa, quanto ao seu papel eclesiastico.
A idéia que mais conflita com a minha é a da que a mulher tenha sido criado primeiro. Não considero sua colocação uma heresia, afinal de contas, ele está indagando, questionando, e heresia é quando você afirma uma inverdade como sendo verdade.
Discordo do autor não por um conflito da essência de sua proposta mas por ter uma compreensão diferente do seu ponto de partida, a criação.
Discordo, portanto, não da essência de sua proposta, mas sim do ponto de partida da mesma.
Acho que ele encontrará mais meios de defender a essência de sua proposta a partir do novo testamento.
Ah! Uma observação! A igreja católica considera o amor de Deus como amor de mãe e não de pai pois considera o amor de mãe, diante de nossa compreensão, o mais parecido com o amor de Deus.
Acho que eles estão a um passo de nós evangélicos!
Texto bem válido como chamamento para uma releitura do que pensamos que cremos, contudo o próprio autor deveria ler a Bíblia um pouco mais e não apenas os livros de filosofia, teologias, etc.
Ler o VT e não reconhecer a LEI DA SIMETRIA, para começar, gera grandes distorções.
Uma leitura cuidadosa do Pentateuco seria suficiente para o autor apreender que não era só a mulher quem era punida em caso de adultério.
Outrossim, a tentativa de simplificação ao traduzir o termo hebraico para 'dominação'e ainda vinculá-lo ao termo latino 'dominus' leva a conclusão errônea.
A velha discussão sobre 'dores de parto' verso 'suor do rosto' aponta não para um castigo, mas para a nova realidade escolhida, opção do primeiro casal, eles passariam a vivenciar a realidade material em toda sua amplitude.
De qualquer maneira, o ranço machista existe sim e persiste nem tanto por causa do VT mas por causa de palavras do NT - 'mulheres sede submissas'. Submissão e dominação, nestes contextos, nada têm a ver com um homem ser dono de uma mulher ou a mulher ter de ser tapete ou capacho de seu marido.
Este ranço aparece mais tarde e persiste por variados motivos e razões que valem a pena ser trazidas à colação, serem discutidas, a bem da verdade, da saúde psicológica de ambos (homem e mulher), de comunidades eclesiásticas que espelhem o amor de Cristo.
Uma pista: Genêsis não fala que a mulher deve tolher sua individualidade, deixar de ter seu espaço. É só ver como era a vida e a conduta social da mulher e o que ela podia fazer naquela época, coisa que grande parcela das mulheres de nossa época não pode ainda e nem sonha poder...
Estive matutando isto também, em como Deus ora se apresenta como Pai-homem e ora como Pai-mãe, em sua forma de relacionar conosco, na própria Bíblia.
Ora ele dá uma lição que só Pai sabe dá, e ora ele acolhe como só Mãe sabe.
Deus é Pai no sentido de origem, criador, mas não no sentido humano-sentimental-social do termo, pois aí teríamos que admitir que Deus é Humano.
Mas fora essa tola discussão sobre a natureza divina, mais importante tema foi sobre a posição da mulher na sociedade, e como ainda hoje muitos crêem na superioridade masculina. Mas isso é normal, pois coube ao homem, desde os primeiros homo sapiens, a tarefa de cuidar da família, de ir à caça, de lutar para protejer seus filhos...
Tudo isso fez com quê a mulher tivesse um papel meio que secundário no desenvolvimento da sociedade. Mas isso está mudando, e muitos não aceitam.
1) A ênfase da Igreja Católica no amor materno é resultado de séculos de destaque para o papel de Maria, destaque muitas vezes que chega à heresia. Basta ver os inúmeros nomes com que ela é tratada. Existem muito mais igrejas dedicadas a Nossa Senhora disto ou daquilo do que a Jesus. Outro eemplo de heresia é o caso da intercessão de Maria. A Bíblia ensina que nenhuma outra pessoa pode interceder junto a Deus. Só Jesus é capaz de fazê-lo.
2) O autor do texto desconhece tanto o contexto cultural do mundo do Antigo Testamento quanto antropologia. É verdade que, pelos padrões de hoje, no Antigo Testamento a mulher ocupava um papel secundário. Mas essa era a prática em todo o mundo da época. Aliás, o Antigo Testamento traz a história de profetizas e líderes. E o livro de Levítico fala dos direitos que uma escrava tinha ao se divorciar do patrão com quem havia casado.
3) A palavra hebraica ruach não significa espírito, mas vento. Pelo fato de o vento ser perceptível na pele, no movimento das folhas, no bater de uma porta, mas ao mesmo tempo invisível, passou-se a empregar a palavra ruah/vento para designar o ser divino, invisível aos olhos mas real. Quanto ao gênero da palavra, o padre falou uma grande bobagem. Em português, sol é masculino, e lua é feminino. Mas em alemão é o contrário. É uma simples perspectiva cultural. Atribuem-se ao homem as ideias de força e frieza; à mulher, as de menos força e ternura. Em português é o sol e a lua porque se quer transmitir as ideias de força e menos força respectivamente. Em alemão é "a" sol e "o" lua porque as ideias são de ternura e frieza. O fato de ruach ser feminino não tem nada a ver.
Nossa, legal demais o texto!!!
Um dos pontos interessantes é sobre a proibição do divórcio por Cristo: ele não falou isso por uma questão de moral sexual (como até hj se diz nas igrejas...), mas como forma de proteção da mulher!
Fantástico!
A proteção da mulher já havia sido instituida ainda no VT, no próprio Pentateuco, e não por meio da fala de Cristo.
É só conferir.
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