17.3.10

Deus não é um bêbado

Eu sei, você estava apenas começando a tentar entender a ideia de que Deus é um bêbado. Mas nós estamos falando de Dionísio e Dionísio não para aí, e nós também não pararemos. Se você se lembra, Dionísio pensa que uma vez que você começa a falar sobre Deus, você tem que que continuar falando sobre Deus até que você literalmente não consiga mais falar. Uma vez que tenha gasto um tempo tentando usar todas as palavras que possa pensar para falar sobre Deus, você começa a se dar conta de que mesmo que você pudesse nomear Deus com todos os nomes existentes, ainda assim não seria suficiente.

É um pouco parecido com quando você olha para uma palavra por tanto tempo que ela para de se parecer com uma palavra; ou, talvez melhor ainda, como quando você fala, fala e fala até que de repente se dá conta de que você não está dizendo mais nada, e aí você se cala. Antes de tudo, você pensa: 'Deus não é um bêbado'. É obviamente um nome totalmente inadequado para Deus. Ele é muito mais do que isso. Então você tenta outros nomes mais apropriados: Deus é Pai. Mas espera um pouquinho, não é o suficiente ainda. Deus é Trindade: mas ainda não é suficiente.

É como no Super Mário, onde você pula num pedaço de pedra e ela acaba desabando debaixo de você, então você tem que continuar pulando para a próxima, subindo aquela grande pilha de palavras nas quais você acabou de trabalhar para chegar até "Deus é um bêbado". Até que eventualmente você se dá conta de que todas as suas palavras são inadequadas. Deus não é um bêbado. Deus não é um Pai. Deus não é infinito. Deus não é parecido com nada que conheçamos ou quaisquer palavras que tenhamos. Mas até isso é inadequado e você tem que começar a negar as negações: Deus não é como ou dessemelhante a nada do que conhecemos. Ele não é limitado nem sem limite.

Ele não é nenhuma das nossas palavras e ele não não é nenhuma das nossas palavras.É como Moisés subindo o Monte Sião para encontrar Deus: primeiro ele deixa pra trás todo o povo de Israel, a confusão, o barulho, os cheiros, as cores. E ele vai em direção à montanha com os anciãos. Mas eventualmente até eles são deixados para trás e fica só Moisés subindo. E ele pede a Deus para mostrar a sua face, mas tudo o que ele vê são as costas de Deus, a ausência de Deus, trevas.

E aqui, nas brilhantes trevas de um silêncio oculto, com as ferragens das nossas palavras permanecendo destroçadas ao nosso redor: aqui, além da razão, além do desconhecimento: aqui está Deus, quando as nossas palavras e nossa compreensão tropeça e falha. Além da nossa compreensão, além do nosso controle: o Deus impensável e inominável.

Fonte: Theologies: Theology for normal people
Tradução: K-fé

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