15.3.10

Podemos fazer mais com a internet

Ao contrário do que dizem textos que circulam na internet, não foi o filósofo tunisiano Pierre Lévyquem cunhou o termo “cibercultura”. Mas, se hoje o conceito não está restrito a cientistas sociais, isso ocorre, em grande parte, porque seu trabalho se tornou uma referência obrigatória sobre a influência das tecnologias de comunicação na sociedade. Cibercultura não é uma subcultura de blogueiros e twitteiros, mas a forma que a nossa própria cultura está tomando com a quase permanente conexão das pessoas com os sistemas de comunicação digital.

Lévy, professor de Comunicação na Universidade de Ottawa, é o autor de Inteligência Coletiva, em que analisa a capacidade desses sistemas de potencializar o conhecimento humano. Seu último livro, Ciberdemocracia, rendeu-lhe um convite para traçar um plano de transparência para a União Europeia. Ele esteve em Curitiba na semana passada, quando conversou com a Gazeta do Povo.

O senhor argumenta que nos faltam ferramentas para tirar proveito da capacidade da internet em aumentar a inteligência coletiva humana. Por quê?

Com a atual geração de ferramentas de comunicação – a interconexão computacional através da internet –, temos uma nova situação, que pode ser descrita da seguinte forma: primeiro, todos os símbolos são ubíquos, pois, uma vez na rede, eles estão em todo lugar e podem ser acessados facilmente em computadores e aparelhos portáteis. Segundo, há interconexão entre todos os documentos, músicas, imagens, softwares, jogos. Tudo está conectado no mesmo hipermetadocumento [documento interativo que remete a outros documentos: a própria internet]. E, finalmente, todos esses símbolos podem ser processados automaticamente. Isso é novo, inédito de uma geração para cá. Os primeiros computadores e mesmo a incipiente internet dos anos 90 não tinham essa característica. Hoje temos um poder computacional massivo que pode ser usado por quase todos e é praticamente gratuito. Então temos autômatos para manipular símbolos e esse espaço enorme onde tudo está interconectado e ubíquo.

É uma situação completamente nova do ponto de vista cultural. Não temos tradição. Nossos conceitos, nossas instituições, não estão adaptados. Ainda não temos sistemas simbólicos adaptados a explorar essa nova situação. Por exemplo, o mais importante dos sistemas simbólicos que usamos são as línguas naturais, feitas para serem processadas pelo cérebro humano e não automaticamente por computadores. Fazemos algo com isso, mas poderíamos fazer melhor. Leia +.

fonte: Gazeta do Povo

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