3.4.10

No Brasil, futebol é religião

Os meninos da Vila pisaram na bola. Mas prefiro sair em sua defesa. Eles não erraram sozinhos. Fizeram a cabeça deles. O mundo religioso é mestre em fazer a cabeça dos outros. Por isso cada vez mais me convenço que o Cristianismo implica a superação da religião, e cada vez mais me dedico a pensar nas categorias da espiritualidade, em detrimento das categorias da religião.

A religião está baseada nos ritos, dogmas e credos, tabus e códigos morais de cada tradição de fé. A espiritualidade está fundamentada nos conteúdos universais de todas e cada uma das tradições de fé.

Quando você começa a discutir quem vai para céu e quem vai para o inferno, ou se Deus é a favor ou contra à prática do homossexualismo, ou mesmo se você trem que subir uma escada de joelhos ou dar o dízimo na igreja para alcançar o favor de Deus, você está discutindo religião. Quando você começa a discutir se o correto é a reencarnação ou a ressurreição, a teoria de Darwin ou a narrativa do Gênesis, e se o livro certo é a Bíblia ou o Corão, você está discutindo religião. Quando você fica perguntando se a instituição social é espírita kardecista, evangélica, ou católica, você está discutindo religião.

O problema é que toda vez que você discute religião você afasta as pessoas umas das outras, promove o sectarismo e a intolerância. A religião coloca de um lado os adoradores de Allá, de outro os adoradores de Yahweh, e de outro os adoradores de Jesus. Isso sem falar nos adores de Shiva, de Krishna e devotos do Buda, e por aí vai. E cada grupo de adoradores deseja a extinção dos outros, ou pela conversão à sua religião, o que faz com que os outros deixam de existir enquanto outros e se tornem iguais a nós, ou pelo extermínio através do assassinato em nome de Deus, ou melhor, em nome de um deus, com d minúsculo, isto é, um ídolo que pretende se passar por Deus.

Mas quando você concentra sua atenção e ação, sua práxis, em valores como reconciliação, perdão, misericórdia, compaixão, solidariedade, amor e caridade, você está no horizonte da espiritualidade, comum a todas as tradições religiosas. E quando você está com o coração cheio de espiritualidade, e não de religião, você promove a justiça e a paz. Os valores espirituais agregam pessoas, aproxima os diferentes, faz com que os discordantes no mundo das crenças se deem as mãos no mundo da busca de superação do sofrimento humano, que a todos nós humilha e iguala, independentemente de raça, gênero, e inclusive religião.

Em síntese, quando você vive no mundo da religião, você fica no ônibus. Quando você vive no mundo da espiritualidade que a sua religião ensina – ou pelo menos deveria ensinar, você desce do ônibus e dá um ovo de páscoa para uma criança que sofre a tragédia e miséria de uma paralisia mental.

Ed René Kivitz, cristão, pastor evangélico, e santista desde pequenininho.

12 comentários:

Thiago disse...

Costumo concordar com o Renée, mas sou da opinião que você só é enganado se quiser. A desculpa de "fazer a cabeça" é a mesma que dizer que alguém é capaz de seduzir o outro a pecar.
Só peca quem quer, e ninguém é totalmente inocente. NUNCA É.
É só ouvir aquele neo pentecostal deslumbrado do Brum para vocês entenderem o que estou falando.

Alexandre de Sá disse...

Ed René Kivitz!
Demais! Também luto contra a religiosidade assépica/higiênica e suas derivações alienígenas. Estou no mundo! Por isso, busco uma espiritualidade terráquea.
<><
Porque o Verbo virou gente e se relacionou com a gente. Ainda bem que Deus "desceu"!

Luiz Henrique disse...

achei mto interessante o texto e concordo.

Jesus fez o bem a todos quanto pôde, independentemente se eram seguidores dele ou não.

Saiamos do ônibus...

Alex disse...

Faltou a fonte do texto.

Pavarini disse...

O texto foi enviado c/ exclusividade p/ o Pavablog, Alex.

abraço

J.Camargo disse...

Pois é! "Eles não erraram sozinhos. Fizeram a cabeça deles." Além do "mundo religioso" apontados pelo autor,eu cito outro responsável por essa mancada dos "coitadinhos":A serpente,afinal a responsabildade pelo nosso erro é sempre dos outros, ora bolas!.

Unknown disse...

Parabéns ao autor do texto.

Infelizmente, o debate infrutífero enfre fé e obras afasta os crentes do amor ao próximo.

Quando terminará o debate entre calvinistas e arminianos?

Quem estabelecerá um meio termo?
Quem não é calvinista nem arminiano é o que?

Por causa desse problema, os "evangélicos" se afastam da síntese da Bíblia: amar ao próximo.
Para a grande maioria dos evangélicos, o próximo é o seu umbigo.

JCPuglisi disse...

A Bíblia diz que quem pecou foi eva e Adão foi levado por ela. Mas os meninos não podem se encaixar nisto porque? Ah sim porque são evangélicos, e também porque jogam futebol no Santos. Não estão atirando a primeira pedra, mas todas...

Giovanna Bacelar disse...

Tenho fé que um dia tomaremos consciência de que todos juntos poderemos evoluir mais e nos ajudar a todos através da espiritualizacao.

Anônimo disse...

Concordo com a questão do preconceito religioso e entendo que as pessoas com deficiências em nada são culpadas. Agora, não basta apenas julgar os jogadores que erraram, lembremos que está entidade só promove ajuda a essas pessoas devido aos principios espíritas que fora da caridade não há salvação. Devedriam fazer filantropia sem o envolvimento da religião, já que o está se discutindo é religião. E mais, se fosse outras pessooas menos famosas não haveria a menor repercursão.
Roger Carvalho

Guilherme Feijó disse...

Concordo com a diferenciação entre religiosidade e a verdadeira fé, e sei o quanto isso tem sido um veneno em nossos dias.
Mas, ao receber e ler este texto em meu e-mail, tive que procurar a fonte para fazer alguns comentários.
Em primeiro lugar, gostaria de esclarecer que a Bíblia deixa bem claro o fato de Deus ser totalmente contra a prática do homossexualismo. É uma das coisas que ele repugna. Isso não é discussão sobre religião. Isso é conhecimento da Palavra. Devemos amar a todos indistintamente, mas não relativizar o erro.
Em segundo lugar gostaria somente de reforçar que a "espiritualidade, comum a todas as tradições religiosas" não é o centro do Cristianismo nem a razão da salvação. Isto só encontramos em Cristo.
Digo isso, irmãos, pois tenho receio de que o erro de outros nos leve ao outro extremo.
Em amor,
Paz

Lia d'Assis disse...

Ed René Kivitz, raramente um pastor, padre ou líder religioso escreve coisas assim. Cada um prefere pregar a sua verdade ao invés de reconhecer verdades universais como o amor, a compaixão e o respeito ao próximo. Suas palavras me trouxeram esperança, precisamos de mais líderes que preguem a solidariedade e a tolerância acima de tudo!
Obrigada!

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