6.4.10

Os presidentes não resolvem

Teremos esse ano eleições presidenciais, mas, como já afirmou “antes do que em um país, nós vivemos em municípios”. E, esse ano, não teremos eleições municipais, embora a tenhamos a cada quatro anos, as coisas parecem não avançar.

A verdade é que muitos dos problemas que nos afetam são de atribuição do Poder Municipal, mas, em 90% dos nossos mais de 5.500 municípios ainda prevalece uma prática política pré-moderna, marcada pelo mandonismo de “coronéis” e de umas poucas famílias, não importando partidos, ideologias ou programas.

A coisa funciona de forma clientelista em termos de favores e vínculos pessoais. Como os nossos municípios são governados praticamente por todos os partidos políticos, não se pode dizer que a culpa seja desse ou daquele partido, na “socialização” da incompetência, da apropriação privada do poder (patrimonialismo) e da desonestidade.

Uma média superior a 10% dos municípios tiveram seus prefeitos, vice-prefeitos e/ou vereadores cassados por improbidade na última legislatura. Nessa área, “os presidentes não resolvem”, e o grau de despolitização dos eleitores sinaliza que esses são incapazes de resolver, até por falta de alternativas entre o “coronel Totonho” e o “major Zezinho”, entre o “partido dos Silva” e o “partido dos Santos”...

E aí vem um segundo círculo político-administrativo: os Estados Federados. Temos 26 Estados e o Distrito Federal, e eles também são governados por todos os partidos e todas as combinações de alianças. E, de Estado para Estado, se repetem os mesmos problemas, especialmente na área de segurança pública, educação básica e saúde pública. É claro que o nosso pacto federativo é distorcido, com descentralização de tarefas, mas má distribuição tributária.

Há, contudo, uma ideologia de desigualdade social “natural” que aí se revela: não importa o(s) partido(s) que governe o Estado, um Auditor Fiscal pode ganhar 10.000 reais, um Soldado de Polícia 1.800 e um professor 800,00. Isso faz lembrar um velho governador das Alagoas, que afirmava: “Eu só me preocupo em pagar bem a Fiscal de Renda e a Policial. O primeiro me ajudar a arrecadar, e o segundo em baixar o cacete nos outros setores que protestarem”.

Nessa área, também, “os presidentes não resolvem”, e a realidade é que a política estadual não está distante do coronelismo, do patrimonialismo e do clientelismo, e algumas famílias dominam a política estadual por muitos e muitos anos, até que a morte os separe...

Aí você escolhe o(a) presidente entre os(as) caras que escolheram para você escolher, e ele vai lotear os ministérios e outras repartições entre a “base aliada”, com cada uma transformada em um feudo, uma “capitania hereditária” dos diversos partidos e grupos, sejam eles quais forem.

Também aí, “os presidentes não resolvem”... até que nós, conscientizados, mobilizados e organizados, queiramos e possamos mudar os caras e levá-los a resolver as coisas, não para o bem deles, mas para o bem comum. Será?

Robinson Cavalcanti, bispo anglicano.

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