Cortava maracujás e colocava o conteúdo em uma vasilha funda.Um cheiro doce, intenso, espalhou-se no ar. Depois lavei, descasquei e piquei o legume alaranjado imaginando as espécies de vitaminas coloridas que dele fluiam.
Também fatio pimentões, cebolas e berinjelas a serem espalhados em uma assadeira, cobertos de azeite e assados mornamente ao forno.Tudo isso vai virar vida em pouco tempo, alimentando sonhos e esperanças de uma família inteira. A água das vasilhas que respinga alegremente em meu rosto lembra como é bom estar viva nessa manhã fresca e iluminada.
Os sons da vizinhança misturam-se suavemente aos ruídos da casa e da música que tocava, em uma sinfonia doméstica nada ortodoxa.
Há tanta poesia e graça em meio a esses pequenos afazeres e me pergunto porque demorei anos a descobrir estas delicadezas. Hoje penso que cada pequeno gesto vai se reverter em vida.
Por amar a vida é que fazemos o banal transformar-se em dádiva. Por amar a vida geramos filhos, pequenos verbos de Deus. Por amar a vida é que escolhemos coser pacientemente os fios de rotina e fragilidade, e quando menos esperamos a tessitura multicor torna-se forte e bem trançada.
Por amar a vida eu conjugo falar, andar, correr, acordar, cansar, beber e comer.Por amar a vida eu ainda posso discordar, afagar, temer, sorrir e chorar.Por amar a vida vou conhecer e desconhecer, errar, revelar, perdoar, reconhecer e me penitenciar. Por amar a vida preciso aprender e desaprender a cada dia, preciso rever todas as coisas, preciso rezar, lembrar e esquecer.
Por amar a vida ‘conjugo verbos como quem se encontra diante do precipício’. Depois, ao avaliar o que há no mais profundo e no mais elevado, me lembrarei que tenho asas hábeis como as de uma gaivota. O precipício se chamará oportunidade.
Por amar a vida conjugo: a mim, a ti, a ele, a nós, a vós e a eles é hoje concedida a chance de sonhar e inventar receitas, escrever na página do dia ainda em branco, ir além.
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