Depois de dar as costas à vontade do seu fundador, optar pela carnalidade, e se fragmentar em 38.000 “denominações” (ganha um prêmio quem encontrar esse conceito na Bíblia), “jurisdições”, “ministérios”, e assemelhados, a Igreja de Jesus Cristo (uma noiva transformada em harém) escandaliza o mundo, e, por viver em pecado do divisionismo, perdeu toda a autoridade moral para disciplinar seus membros por outras razões.
Para compensar o esquartejamento do Corpo, foi construída a desculpa esfarrapada e neoplatônica da “unidade invisível” (entre fantasmas). O argumento do crescimento quantitativo e a “salvação das almas” (não a redenção da Criação e a promoção do Reino de Deus) apenas servem para anestesiar consciências. Que “evangelho” é esse, que não consegue nem unir o Novo Israel, o Povo da Nova Aliança? A reação da maioria é de indiferença ou fatalismo diante dessa tragédia, sem convicção de pecado, sem mudança de vida e sem militância pela restauração da unidade. A fragmentação é uma heresia prática, e a sua justificativa uma heresia teórica.
Do século I ao século XVI, o que tínhamos? A arrogante Igreja de Roma, se pretendendo única e verdadeira; a Igreja Bizantina (Ortodoxa) também com a mesma arrogante pretensão, os Pré-Calcedônios, os Nestorianos, os Uniatas autônomos, mas vinculados a Roma, e, posteriormente, os protoprotestantes: moravianos e valdenses. Ou seja, uma meia dúzia de ramos.
Com a Reforma Protestante, terminamos o Século XVI com uma dúzia (+Luteranos, Calvinistas, Anglicanos, Anabatistas). E fomos rachando devagarzinho na Europa e não tão devagarzinho nos Estados Unidos nos três séculos seguintes, até chegarmos a “zorra total” na segunda metade do século XX.
As novas compreensões da Igreja mandaram a eclesiologia para o espaço, e venceu Mamon: livre iniciativa, livre empresa, grandes (e pequenas) igrejas, grandes negócios, esquisitices de revelações particulares e projetos personalistas.
Que conversa fiado é essa que a Igreja só consegue se manter unida quando “reforçada” pelo braço do Estado? Que Estado manteve unida a Igreja de São Tomé, em Kerala, na Índia, por XVI séculos? Ou a Igreja Copta, no Egito? E “consagrados” cristãos ainda comparecem a inaugurações de rachas, fundações de novas empresas (digo, ministérios), e a ordenações dos cismaríticos numa boa, como quem vai para a inauguração da butique de uma amiga, com direito a um coquetel depois... Não da para lembrar a Oração Sacerdotal? Ou que a unidade dos primeiros séculos era concreta, social, histórica, e não metafísica?
Nesse tempo em que recordamos Jesus Cristo reunindo os discípulos dispersos (entre a Ressurreição e a Ascensão) para que se preparassem para o Pentecostes, devemos por os joelhos em terra, rasgar as vestes, em saco e cinzas, buscar arrependimento, clamar por misericórdia.
Cada “denominação”, “jurisdição”, “ministérios” ou assemelhados que surgem, rasga-se a túnica inconsútil, dilacera-se o Corpo. Igreja não é empresa para melhor servir ao consumidor com a diversidade de produtos da concorrência (Mamon, não o Espírito Santo). Vive-se uma tragédia. Desobedece-se ao Senhor. Vive-se em pecado. O resto é racionalização pragmática, utilitarista. O resto é carne. Criemos vergonha na cara, enfrentemos a verdade, acertemos as contas com o Senhor, e paremos com justificativas e desculpas fajutas.
A Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica (não Romana, Bizantina ou qualquer outra regionalidade com pretensão de universalidade), unida no amor, na verdade e na concretude institucional foi o projeto original abandonado. Se não podemos restaurar a unidade, que ao menos não concorramos, por ação, omissão ou falsos ensinos, para agravar a tragédia.
Ora vem, Senhor Jesus!
Robinson Cavalcanti, bispo anglicano.
7.5.10
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5 comentários:
Realmente concordo com as afirmações. Abre-se igrejas como que se abrem botecos em cada esquina, cada um disputando os membros dos outros como um comércio que disputa clientes. Esquecem-se do principal fundamento da igreja, que é o amar o próximo e ajudar os necessitados. Quanta hipocresia nos dias de hoje. Isso quando não querem impor seus usos e costumes afirmando ser divino. Tudo Balela. Servir a Deus é prosseguir com a missão do mestre.
A Igreja institucionalizada tornou-se uma aberração da qual diz-se ter uma única cabeça e mais de 38.000 corpos.
Deixamos de ser realidade e passamos, tal e qual a Medusa, a ser mito.
Ser igreja hoje é fazer parte não mais de um corpo místico de Cristo mas antes de um corpo mítico.
Muito legal e consciente, só fiquei meio perdido nesse final!!rsrsrs
Muito bom esse texto do Bispo Robinson Cavalcanti. Temos que buscar a unidade em Cristo, independente de questiúnculas pequenas. A todos aqueles que creem que Jesus é o Cristo, que Ele morreu para que haja redenção da escravidão do pecado e que haverá novos Céus e novas Terras, vamos caminhar juntos no Senhor, para que experimentemos como será o Reino.
Ora vem, Senhor Jesus!
Que maravilha de texto!
Que belo puxão de orelhas nos ditos "crentes", que deixam orientar pelos ensinos do Cristo verdadeiro e seguem, hipnotizados pelos adoradores de Mamom(tornando-se adoradores também), ladeira abaixo sabe-se lá pra onde. Com certeza não rumam à renovação espiritual, mas sim para destruição e confusão, para o amor ao dinheiro, fama, estrelato e outras mazelas distantes da verdadeira vida exemplificada pelo Cristo real.
Abçs!
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