10.5.10

Drogas, rock e gestão

O que a banda Grateful Dead, uma das mais malucas já nascidas na Califórnia, ensinou ao mundo dos negócios

Ilustração Mao Barros e Victor Guy

Grandes lições de negócios saem dos lugares mais inesperados, como mostra a história da banda Grateful Dead. Fundada em São Francisco nos anos 60, pelo carismático compositor Jerry Garcia, ela se tornou o epítome do lado mais maluco da contracultura: o das drogas lisérgicas e do estilo hippie. Também criou obras-primas do rock, como o álbum American Beauty, de 1970. Pois bem, especialistas em negócios estão mostrando que o legado do Dead vai além. Práticas adotadas pela banda nos anos 60 e 70 só começaram a ganhar aceitação entre os gestores norte-americanos e japoneses a partir dos anos 80. Em um artigo recente, o jornalista Joshua Green, da revista The Atlantic Monthly, reuniu as lições que a banda deixou. Ei-las:

Fidelização do cliente_O Grateful Dead se esmerava para atender às demandas de sua base mais leal de fãs. A banda foi pioneira na criação de uma linha telefônica direta para eles, que podiam reservar ingressos por telefone. Esse tipo de serviço em corporações americanas só começou a surgir uma década depois. A Broadway adotou a prática no fim dos anos 80, para os ingressos. “Os membros da banda eram mestres em proporcionar uma experiência de valor diferenciado”, diz Barry Barnes, professor da Southeastern University, na Flórida.

Gestão 360 graus_O pioneirismo do Dead também se fez presente na gestão holística, tão em voga desde os anos 90. À rígida estrutura verticalizada de outras bandas, o Grateful Dead estabeleceu uma gestão horizontalizada. A banda era administrada por um conselho, composto dos músicos, da equipe sonora e até de membros do fã-clube. O cargo de CEO era ocupado em revezamento pelos principais membros do grupo.

Modelo Free_O modelo de negócios grátis, tão discutido em 2009 (como no livro Free, de Chris Anderson), foi antecipado em três décadas pela banda. Nos anos 70, o Grateful Dead incentivou os fãs a gravarem em cassete os concertos do grupo e distribuí-los de graça. “A melhor forma de criar demanda para o seu produto é dá-lo de graça”, escreveu em 1994, na Wired, o ex-letrista do Dead, John Perry Barlow. Mesmo incentivando a música grátis, os CDs do grupo vendem bem até hoje. Além disso, a banda ainda obtém um bom dinheiro com quinquilharias que levam sua marca.

Redes sociais_O fenômeno das redes sociais também foi antecipado pela comunidade de fãs da banda. Nos anos 80, os sociólogos acreditavam que os membros de comunidades a distância não criavam elos duradouros. Hoje, graças a Orkut e Facebook, todo mundo sabe que não é assim. A falácia do argumento já tinha sido provada em 1986 num estudo comportamental feito nos Estados Unidos sobre o grupo de fãs Deadheads, cujo estilo é o mesmo das atuais comunidades online.

A lição final é que, às vezes, aulas de inovação vêm de lugares insuspeitos, até de uma banda de rock hippie.

Edson Porto e Álvaro Oppermann, na Época Negócios.
dica do Chicco Sal

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