5.5.10

Epístola de Luiz Inácio aos bispos da CNBB

Meu Prezado Dom Geraldo,

Neste momento em que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil realiza em Brasília sua Assembleia Geral, tomo a liberdade de lhe enviar minha fraterna saudação, com o pedido de que esta mensagem seja comunicada aos Eminentes Senhores Cardeais, aos Senhores Arcebispos, Bispos, Sacerdotes, Religiosos e Religiosas, bem como a todos que compõem e participam desta grande Assembleia.

Antes de mais nada, quero cumprimentar a direção da CNBB pela iniciativa de realizar em Brasília, que comemora seus cinqüenta anos, tanto sua Assembleia Geral como o XVI Congresso Eucarístico Nacional. Esses dois eventos, além de honrarem e dignificarem a comemoração dos cinqüenta anos da Capital do País, certamente, por sua densidade espiritual, nos ajudarão na superação da grave crise política e ética que se abate tristemente sobre esta Cidade.

Como o Senhor deve se lembrar, tive a honra de visitar, em meu primeiro ano de Governo, a Assembleia Geral da CNBB que se realizava em Itaici; agora, esta Assembleia que se inicia coincide com meu último ano de Governo. Neste momento, Dom Geraldo, minha primeira palavra é de agradecimento pelo diálogo e pela convivência franca e fraterna que tivemos ao longo desses quase 8 anos.

O apoio da Igreja Católica em suas instâncias nacional, regionais e locais foi fundamental para que pudéssemos realizar e implementar as políticas sociais nestes dois mandatos. Tenho consciência de quanto são importantes os convênios com as entidades religiosas para que as políticas sociais aconteçam de fato em todo o País e em toda sua capilaridade junto ao povo mais pobre e excluído.

Ao mesmo tempo, as críticas e os embates, em temas específicos, que vivenciamos com maturidade nos ajudaram a corrigir erros e limitações. As divergências e posições diferenciadas que tomamos não afastaram em nenhum momento nossa vontade de diálogo e mútua contribuição.

Nosso Governo, Dom Geraldo, procurou nestes anos pautar-se pelo necessário equilíbrio entre sua definição como Governo de um Estado laico, e, ao mesmo tempo, desenvolver uma política de intenso diálogo com as diferentes Igrejas e Religiões. Tenho consciência dos desafios que esta posição implica, por se tratar muitas vezes de um debate entre diferentes culturas, sensibilidades e concepções éticas. No entanto, não abrimos mão deste relacionamento franco e foi nesta perspectiva que debatemos e levamos a bom termo nosso Acordo firmado e ratificado com a Santa Sé. Entendemos que este Acordo se constitui num avanço da institucionalização de nossas relações, dando maior segurança para a atuação da Igreja Católica em nosso País.

Mas sem dúvida, a questão que mais nos aproxima e identifica é o cuidado para com este grande contingente de brasileiros que ao longo da história foi mantido à margem da cidadania em seus mínimos direitos. Para mim, dom Geraldo, esta é a questão central da grande discussão, tão atual, em torno dos Direitos Humanos.

Tenho consciência, Dom Geraldo que o Estado e o Governo estão em dívida com amplos setores da sociedade brasileira. E neste aspecto, sei muito bem que muito ainda resta a fazer, e um longo caminho a percorrer até que este País se constitua de fato numa verdadeira Nação e seus filhos tenham sua dignidade respeitada, e assegurado seu direito à participação verdadeiramente democrática em todos os sentidos.

Neste momento, Dom Geraldo, quero agradecer muito a Deus por tudo o que aconteceu nestes anos. Tenho para comigo mesmo que as bênçãos de Deus e de Nossa Senhora Aparecida, cujo Santuário pretendo visitar em ato de gratidão antes do fim deste mandato, foram essenciais para que chegássemos até aqui. E peço suas orações e de todos os Senhores Bispos para que sigamos nesta missão até o último dia deste mandato e que o Povo brasileiro tenha a luz e a sabedoria para fazer sua escolha quanto à nossa sucessão.

Desejo muitas luzes para esta Assembleia que se inicia e cujos resultados sem dúvida tem enorme importância para nosso povo.

Um forte e fraterno abraço.

Luiz Inácio Lula da Silva

trecho da carta de Lula à CNBB. Leia +.

fonte: G1
dica do Jarbas Aragão

Um comentário:

Chicco Salerno disse...

Ok. faz de conta que ele, o cara, escreveu esta carta e eu faço de conta também que acredito em tudo o que 'ele' disse...

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