Ultimamente tenho tido com maior frequência a sensação de que não estou mais entendendo o mundo. Não encontro explicações para o comportamento humano e às vezes chego a me desesperar por não participar das manias coletivas que de alguma forma dão às pessoas a sensação de que fazem parte da mesma tribo. Jamais fui um solitário ou sofri de qualquer problema com minha vida em sociedade, acho até que muito pelo contrário.
Mas realmente nos últimos tempos tenho tido imensa dificuldade de entender porque tem gente que gosta de certas coisas. Diante de pessoas com preferências ou ideias completamente opostas às minhas, sou capaz de me manter sempre na posição de que talvez seja eu o diferente, não quem não concorda comigo.
Dou a vida por uma picanha, adoro dobradinha e rabada, mas compreendo o que move um vegetariano a só gostar de plantinhas. Não me sinto bem na praia, areia me incomoda, mas posso intuir como deve ser delicioso se torrar na beira do mar. Assim, sou capaz de imaginar que deve ser bom fazer ioga, cuidar de rosas, ouvir mariachis. Até votar no Maluf, para se ver como vou longe.
Também não vejo nada de tão estranho em ser veado. Mas realmente tenho dúvidas quanto à sanidade mental de quem passa o dia vendo o “BBB”. Aquelas pessoas falando platitudes o dia inteiro, com vocabulário de umas duzentas palavras, não conseguem prender minha atenção por mais de dois minutos. A não ser durante o banho ou a dança das gostosas, mas daí já é outra coisa. Cada vez que, zapeando, sintonizo os pastores RR Soares ou Silas Malafaia, dou a maior razão para os fiéis que atravessam a cidade para ouvi-los o dia inteiro.
Uma vez quase perdi um avião porque numa madrugada liguei a televisão enquanto fazia a mala e o bispo Macedo começou a explicar a simpatia que Jesus tinha pelos vitoriosos que ganhavam dinheiro com o trabalho. Fiquei ouvindo e me atrasei. Aquela bispa dos dólares na Bíblia, guru do Kaká, cujo nome me foge agora, um misto de Nigella Lawson com a ruivinha do Shoptime, sempre me encantou.
A ponto até de me permitir imaginar que, talvez, se eu fosse o Kaká, também daria dez por cento do meu salário para ela. Principalmente se os noventa por cento fossem os noventa por cento com que ele fica. Bem, já deu para perceber que não sou o que se pode chamar de um radical. Mas não consegui entender ainda o que move as pessoas a passarem o dia twitando umas com as outras, trocando as informações mais banais. “Tomando o busão”, diz uma mensagem. “Vou comer uma coxinha no Frangó”, diz outra. “Dá-lhe timão”. “Todo homem é babaca”. “Essa não ta cum nada”.
Como já contei na semana passada, amigos meus criaram um twitter com o nome de lulaviaierafake e ficam tentando provar que sou eu quem escreve, principalmente imitando o que eles julgam ser meu estilo. Por isso, andei frequentando outros twitters para ver como é o ambiente. Boa parte é evidentemente comercial. Vá acreditar num cara que escreve: “As lojas marcianos estão com uma promoção incrível: TV de plasma por 89,90 mensais. Fui lá e me dei bem”.
Se alguém algum dia escreveu algo assim para os amigos sou mico de circo. Outra parte são de pessoas que acreditam piamente que podem melhorar o mundo distribuindo pílulas de sabedoria. “Se você se sentir como o sol, seguramente vai iluminar alguém”. “Por incrível que pareça é mais fácil odiar quem nos ajuda do que amar quem nos faz mal”. Coisas deste tipo. Sem contar mensagens de profundo significado humano e social: “grande gataaaaaaaa!”, “valeu guerreiraaaaa!”, “te amo, to cum saudades”, “e aí galera?”. Definitivamente não é o meu mundo.
De qualquer forma, antes que me considerem um troglodita antiquado, um velho fóbico por novidades, estou colecionando algumas respostas para utilizar no meu twitter para mostrar que eu também entendo da coisa: “umftp!”, “como dizia meu pai, cachorro escaldado tem medo de igreja”, “vai com tudo verdão!”, “bom diaaaaaaa!”, “se der praia estou na areia”. Como vocês veem, tô aí com tudo.
Lula Vieira, no Propaganda & Marketing.
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