14.1.07

Igreja: você também pode ter uma (2)

Com a igreja oficialmente fundada, você faz a festa, se o cristão for mal-intencionado, claro, não é o nosso caso. Além da contribuição espontânea dos seguidores, você pode obter isenção fiscal para comprar até um avião, desde que os bens adquiridos pertençam à sua entidade religiosa. Melhor ainda: você pode usar a sua igrejinha como “laranja” para fazer qualquer transação para terceiros. Mediante uma módica comissão, claro, aqui se faz aqui se paga, molhai-vos as mãos uns dos outros, amém, irmãos.

Quanto o irmão vai gastar com os trâmites burocráticos? Se fizer você mesmo, como manda a filosofia punk, morre ai uns R$ 250, no máximo. Mas existem assessorias jurídicas e de contabilidade, aqui no centrão de SP está repleto delas, que abrem a igreja para você na boa, sem trabalho algum. Estes escritórios dão inclusive idéias de nomes e têm diversos tipos de estatutos à sua escolha. O serviço completo varia entre R$ 700 e R$ 1 mil. Pechinche, eles sempre pedem lá em cima.

A nossa igreja, irmãos, a Subliminar do Anonimato Purificador, foi fundada há quatro anos, na companhia do pastor Cazé Pessanha, aquele mesmo apresentador da MTV. Gravamos tudo para um programa-piloto de uma emissora de televisão que nunca foi ao ar. Breve no You Tube, irmãos, e sem cicarellismos, irmãos. Só não registramos no Ministério da Fazenda para não caracterizar possível picaretagem de fato, mas que hay igreja oficialmente, isso hay. Os nossos estatutos revelam que, em tempos da profecia dos 15 minutos de fama e cultos a Big Brothers, só o anonimato purifica e salva, só os zé ninguéns ou os famosos que abandonam ou fracassam na carreira vagabunda herdarão o paraíso, um paraíso assim bem parecido com aquele da novela “A Viagem”, aquele gramadão imenso e entediante do drama de Ivanir Ribeiro, lembram? O céu é o limite, simples, simples. Proposta bastante cristã, mas, juro, não era Jesus Cristo obrigatoriamente a nossa inspiração naquele momento.

Tudo bem, num é lá um grande nome para uma igreja séria, mas também não é assim uma Igreja Evangélica Pentecosental (sic) Cuspe de Cristo, como um templo registrado, sério, pode crer, aqui em SP. Ou Assembléia de Deus Batista A Cobrinha de Moisés A que Engole as Outras. Nem muito menos uma objetivíssima Igreja Associação dos Homens de Negócios do Evangelho Pleno. Tem ainda a do Papagaio que Ora a Bíblia, juro. Existe um site chamado Igrejologia, de um rapaz evangélico do Rio, que vive só de juntar batismos exóticos de igrejas e também de terreiros.

Ao contrário de outras entidades religiosas, a nossa igreja não exige cota mínima de arrecadação dos seus pastores e apóstolos, mas estamos apenas recomeçando as atividades nesse momento. Politeístas, aceitamos todos os deuses, crenças, moedas e cartões de crédito _brincadeira, amigos, somos mesmo sérios e devotos ao combate à vagabundagem da nada divina comédia da fama.

Xico Sá, no blog Ponte aérea/SP.

Um comentário:

Anônimo disse...

Tá aí, vai dizer que não são as pedras clamando, relatando que, de alguma maneira, há igrejas evangélicas envergonhando o evangelho do Senhor Jesus Cristo. Se chegam a abrir igrejas nessas condições, estão alegando que "todas" tem o mesmo objetivo: isenção de impostos, aquisição de bens e arrecadação de dinheiro.
É triste ler uma coisa dessas. Por causa de alguns poucos, todos os evangélicos são tidos como engodados por alguns "pastores" espertinhos, todas igrejas não passam de "laranjas", perdendo a sua caracteristica mais importante, o ide de Jesus, do de levar a palavra de salvação a toda e qualquer criatura.
É lamentável a situação em que vivemos, aproveitam-se até do evangelho como meio de extorquir e enganar! Misericórdia Senhor!E as pedras estão clamando!

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