14.1.07

Lavagem gospel (11)

Malotes com dinheiro recolhido em doações de fiéis levados durante a madrugada, em filas de carros blindados, até um heliporto. Farras como o uso de um helicóptero para transportar apenas uma caixa de água Perrier para um haras em Atibaia. Envelopes cheios de notas tirados da sede social da Igreja Renascer para comprar cavalos. E bispos que vivem cercados de seguranças equipados, em um aparato difícil de encaixar no cotidiano de líderes religiosos.

São cenas que exemplificam a acusação de que o casal Estevam e Sônia Hernandes, fundadores da Renascer, costumam usar para fins pessoais a máquina sustentada pelo dinheiro dos fiéis da segunda maior denominação neopentecostal do Brasil – importante em São Paulo a ponto de organizar a “Marcha Para Jesus”, evento que entrou para o calendário oficial da cidade e, só no ano passado, reuniu 3 milhões de pessoas.As peripécias financeiras do casal foram relatadas por Dulce Carrapatoso, mãe do piloto de helicóptero Márcio José Borba de Melo – que trabalhou para os Hernandes por dois anos e meio e morreu na noite do Natal de 2005, depois de levá-los a uma festa.

O balaio de denúncias contra os Hernandes já resultou em 116 ações de cobranças de dívidas espalhadas por 13 estados do Brasil, dois processos na Justiça de São Paulo nos quais são acusados de lavagem de dinheiro, evasão de divisas e estelionato e, agora, um nos Estados Unidos que apura os mesmos crimes.

Com exceção da ação que tramita na Flórida – iniciada na semana passada, depois que o casal foi preso ao tentar entrar em Miami com dólares não declarados –, todos têm em comum testemunhas que preferem o anonimato ao relatar o que sabem sobre a mistura entre o patrimônio de uma igreja construída com as cédulas de seus fiéis e os bens de seus líderes.

“Eu quero falar”, diz Dulce. Assistente social, 59 anos, ela deu entrevista ao lado do marido, o comerciante Daniel Ignácio da Silva, 60 anos, que vez por outra acrescentava detalhes ao que ela dizia. Márcio morreu aos 36 anos, após deixar em casa a mulher e dois filhos – a caçula com 9 dias – para fazer duas viagens com os Hernandes e convidados. (continua)

fonte: Gazeta do Povo

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