A minha alma partiu-se como um vaso vazio.
Caiu pela escada excessivamente abaixo.
Caiu das mãos da criada descuidada.
Caiu, fez-se em mais pedaços do que havia loiça no vaso.
Asneira? Impossível? Sei lá!
Tenho mais sensações do que tinha quando me sentia eu.
Sou um espalhamento de cacos sobre um capacho por sacudir.
Fiz barulho na queda como um vaso que se partia.
Os deuses que há debruçam-se do parapeito da escada.
E fitam os cacos que a criada deles fez de mim.
Não se zanguem com ela.
São tolerantes com ela.
O que era eu um vaso vazio?
Olham os cacos absurdamente conscientes,
Mas conscientes de si mesmos, não conscientes deles.
Olham e sorriem.
Sorriem tolerantes à criada involuntária.
Alastra a grande escadaria atapetada de estrelas.
Um caco brilha, virado do exterior lustroso, entre os astros.
A minha obra? A minha alma principal? A minha vida?
Um caco.
E os deuses olham-o especialmente, pois não sabem por que ficou ali.
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Álvaro de Campos
1.9.07
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Um comentário:
Sem Ti não valor algum em mim.
Ainda que o vaso quebre é necessário para que possa me refazer.
Os meus talentos não há valor algum se não for usados para Ti.
Que eu permite que consiga atrair meu coração e não tudo que tenho ou possa fazer.
Não quero ficar em estado "caco" pra sempre, me refaça segundo a beleza do teu querer afim de que eu seja para Tua honra.
E quando precisar...q o vaso se quebre novamente.
Sem Ti não há valor em mim.
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