Quatro são os plintos da praça Trafalgar. Três são os plintos ocupados por heróis da pátria britânica.
O plinto do canto nordeste da praça é ocupado por George IV, que deu ao país os Georges V e VI.
O plinto do canto sudeste quem o ocupa é Henry Lovelock, cujos feitos teremos de passar por cima, em vista do adiantado da hora.
O plinto do canto sudoeste cabe a sir Charles James Napier, que também passará para nós, lá em suas alturas, em brancas nuvens.
O assunto é o quarto plinto. O quarto plinto. Excelente nome para um romance que tanto poderia ser da autoria de Umberto Eco ou Ítalo Calvino.
Há qualquer coisa de italiano em plintos, embora a origem da palavra esteja no grego, plynthos. O quarto plinto. Também poderia, ou deveria, ser um conto breve, mas perfeito, claro, de Jorge Luis Borges.
O quarto plinto da praça Trafalgar encontra-se vazio. Vazio como o peito dos amantes abandonados para sempre por suas amadas numa – claro – praça.
Força é preenchê-lo. E rápido. Um plinto vazio, como este está há anos, constitui espetáculo triste. Pouco edificante. É mister do plintos edificar. Sempre e cada vez mais.
Como explicar e edificar um plinto
Muitos leitores menos esclarecidos não sabem o que é um plinto. Eu que bato estas mal digitadas linhas insisto em manter uma saudável ignorância a respeito da verdade, toda a verdade, e nada mais que a verdade, sobre os plintos.
Plinto é a base de uma coluna, seu pedestal, melhor dizendo. Mesmo tendo conferido no mais que confiável Houaiss, continuo a ter minhas dúvidas sobre a veracidade dos plintos.
Segundo o dicionário em questão, um plinto é a base retangular de uma coluna. Também um alaque, dado, soclo e soco: quatro vocábulos que me perturbam e me ameaçam o sono.
Felizmente, em sua segunda acepção, Houaiss explicita: pedestal de estátua. Suspiros gerais de alívio. De Eco, Calvino, Borges e deste escriba, conforme gostam de se apelidarem os escritores abaixo da mediocridade.
Nós todos, leitores inclusive, sabemos o que é um pedestal de estátua. É naquela base da base de estátua, conforme já foi dito.
Nós, brasileiros, amantes e apreciadores das estátuas, em todas suas variações, dos bustos imponentes às equestres, conhecemos por demais o assunto.
No Rio, não me canso de lembrar aos leitores de outros estados, há estátuas de bronze e até mesmo folheadas a ouro de cronistas sociais (Zózimo Barroso do Amaral, no Leblon; Ibrahim Sued, na entrada do hotel Copacabana Palace) e de um poeta, Carlos Drummond de Andrade, sentadinho num banco da praia de Copacabana, de costas para o verde mar, admirando apenas, no entender dos artistas responsáveis, a paisagem das pessoas que passam. Façamos um ponto e um parágrafo, que os vates os merecem.
Nenhuma dessas estátuas tem plinto. Se a praça Trafalgar possui quatro, por que haveremos de homenagear aqueles que decantaram nossa vibrante e vigorosa vida – talvez até mesmo luta – social numa total ausência de plintos?
O imenso poeta Carlos Drummond, ao menos, ganhou um banco. Banco com plinto não dá. Sugiro a governador do estado, prefeito e cariocas esclarecidos uma campanha a favor de mais plintos.
Plintos para todos. Plinto é cultura!, poderia ser seu slogan. Ninguém mais merecedor de plinto do que os habitantes, vivos ou mortos, da cidade do Rio de Janeiro.
Ivan Lessa, no site BBC Brasil
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Nananina. Omiti o nome de quem me enviou o texto divertido e, claro, a(s) dedicatória(s) sugerida(s). Povo maldoso. =]
13.1.08
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