Sempre que coçava a barba, pressentia a presença do Criador. A gravitação mágica de seu nome deixava, aos poucos, de ser um conceito: virava algo físico. Sobretudo porque mergulhei em uma tarefa especial por dois meses. Afinal de contas, viver como manda a Bíblia, creia, é uma profissão de fé. Não cortar a barba como manda o livro sagrado, quando nunca se usou barba na vida, é um sacrifício dos diabos. O rosto fica hirto. De icterícia. O sorriso, ortopédico, porque o bigode adeja sobre suas palavras como um pardal. O cansaço da pele parece aumentar. E tudo isso desde 12 de outubro do ano passado, dia de Nossa Senhora Aparecida, quando dei início à missão de seguir os passos de um jornalista dos EUA.
A.J. Jacobs, editor da revista "Esquire" e autor do best-seller The Year of Living Biblicaly ("O Ano em que Vivi Biblicamente"), lançou a idéia. Nivelou seu destino com o Velho e Novo Testamentos por um ano. Mas minha tarefa era ir além. Não no tempo, porque vivi biblicamente por dois meses e não 12, e sim na intensidade: afinal de contas, estamos no Brasil, o maior melting pot, vulgo cadinho cultural, do planeta. Assim como Jacobs, segui mandamentos e ordens bíblicas às vezes prosaicas, que mexeram com meu dia-a-dia, mas coube a mim a missão de consultar religiosos e especialistas nos textos sagrados em busca de respostas para a pergunta: é possível viver segundo as leis da Bíblia no Brasil de hoje?
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Deixada a barba à espartana, procedeu-se às prédicas bíblicas. Tanto do Velho quanto do Novo Testamento (veja quadro à direita). Levítico 19:19, por exemplo, me proíbe usar roupas feitas com dois tipos de fibra. Começa aqui uma contradição que contrapunha à minha vida dois salmos. Afinal, Jeremias 13:23 sugere que o leopardo não pode mudar as suas manchas. Bem, costumo ir à academia de ginástica todos os dias, tentando perder a barriguinha. Pior: vi que a sunga utilizada para a empreitada tinha 3 tipos de fibra. Larguei a academia e fui buscar cuecas de algodão. Mas a única que tinha em casa era uma importada que foi deixada por uma ex-namorada que adorava usar peças íntimas masculinas. Não me julgue mal (não julgueis para não serdes julgado, diz Mateus 7:1). A solução foi comprar cuecas novas. Torrei mais de R$ 150. E meus membros doíam com a falta da academia.
trecho inicial da matéria de capa da revista Galileu. Último parágrafo: "O que levo disso? Talvez a certeza de que posso montar o meu Deus pessoal como um prato de restaurante a quilo".
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Há algum tempo a Superinteressante e a Galileu investem em temas religiosos pseudopolêmicos e as vendas sobem c/ a temperatura das discussões.
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Há quem leve a sério as blagues (veja texto legal no blog do Michelson Borges) e, bravo ou não, torne-se agente eficaz de buzz mkt p/ as publicações.
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Curti o texto e espero separar um tempinho p/ alinhavar algumas lições superinteressantes (epa!) que extraí. Aguardem.
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