9.2.08

Nascer aquilo que eu já era

"Quando não estou escrevendo, eu simplesmente não sei como se escreve. E se não soasse infantil e falsa a pergunta das mais sinceras, eu escolheria um amigo escritor e lhe perguntaria: como é que se escreve?

Por que, realmente, como se escreve? Que é que se diz? E como dizer? E como é que se começa? E que é que se faz com o papel em branco nos defrontando tranqüilo?

Sei que a resposta, por mais que intrigue, é a única: escrevendo. Sou a pessoa que mais se surpreende de escrever. E ainda não me habituei a que me chamem de escritora. Porque, fora das horas em que escrevo, não sei absolutamente escrever. Será que escrever não é um ofício? Não há aprendizagem então? O que é? Só me considerarei escritora no dia em que eu disser: sei como se escreve."

Clarice Lispector, em A descoberta do mundo (Francisco Alves).

Meu amigo Gabriel Arcanjo me fez essa pergunta, inspirado na crônica de Clarice Lispector. Partilho minha resposta:

"Escrever é esquecer as mãos. O rosto. E ir esquecendo as pernas, o fígado, o pulmão, o rim, o sexo, o batimento cardíaco.

Depois de esquecido, lembrar das mãos, do rosto, das pernas, do fígado, do pulmão, do rim, do sexo, do batimento cardíaco.

Escrever é nascer aquilo que eu já era, perdoar o que já tinha."

Fabrício Carpinejar

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