9.2.08

Quando eu soltar a minha voz

Um, dia, no tempo da ilegalidade, chegou à casa do sr. Egge, que tinha aprendido a dizer "não", um agente, que mostrou um documento, emitido em nome dos que dominavam a cidade, no qual constava que a ele devia pertencer toda casa em que pusesse o pé; do mesmo modo, devia receber toda comida que desejasse; também do mesmo modo, todo homem que lhe visse devia lhe prestar serviço.

O agente sentou-se numa cadeira, pediu comida, lavou-se, deitou-se e perguntou, com o rosto voltado para a parede, antes de adormecer: "Você vai me servir?".

O sr. Egge cobriu-o com uma coberta, afugentou as moscas, zelou pelo seu sono e obedeceu-lhe, como nesse dia, durante sete anos. Mas, não importa o que fizesse por ele, uma coisa se guardava de fazer: pronunciar uma palavra. Quando os sete anos tinham se passado e o agente tinha se tornado gordo de muito comer, dormir e dar ordens, o agente morreu. Então o sr. Egge o enrolou na coberta estragada, arrastou-o para fora, lavou a casa, caiou as paredes, respirou e respondeu: "Não".

Bertolt Brecht, em Histórias do sr. Keuner (Editora 34).

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