5.3.08

Por uma teologia ambiental

Ainda há pessoas sinceras que acreditam que não se deve ter cuidado com o meio-ambiente porque, afinal de contas, tudo um dia vai se acabar na grande destruição que precederá o Juízo Final. Qual seria, então, o benefício de ter consciência ambiental e tentar preservar esse mundão de meu Deus, se tudo se acabará mesmo?

Bem, antes de prosseguir, preciso dizer que acredito que haverá um juízo final, que haverá novos céus e nova terra e que, por fim, o Reino de Deus será estabelecido. A despeito disto, não posso concordar com os que, por conta da esperança do porvir, tomam atitudes irresponsáveis com o nosso planeta. Se há pessoas sinceras que acreditam assim, também é certo que essa crença pode gerar cinismo.

Assim, cinicamente, justifica-se uma irresponsabilidade com a nossa casa comum, o planeta terra, com argumentos teológicos. Podemos destruir todas as florestas, poluir os rios, detonar com a qualidade do ar, esbanjar energia elétrica, produzir toneladas de lixo (e não reciclar), extinguir várias espécies de animais e plantas, fazer mau uso da água desperdiçando-a, porque no fim tudo será mesmo destruído, dizem os apologetas do caos.

Segundo o tal raciocínio, como o fim está próximo, não precisamos pensar na próxima geração ou em como estará o mundo daqui a cem ou quinhentos, porque “não durará tanto assim”. Será? Os primeiros cristãos também pensavam que o fim chegaria em poucos anos. Estavam errados.

É preciso lembrar que a própria Bíblia diz que para Deus “um dia é como mil anos e mil anos como um dia”, ou seja, Deus não lida com o tempo da mesma maneira que nós. E se a volta de Jesus, tão aguardada por nós, cristãos, acontecer só daqui a cinqüenta mil anos? O que dirão os povos que viverão naquela época acerca da irresponsabilidade dos cristãos que viveram nos anos 2000 quanto ao mundo em que viviam.

A exploração predatória do meio-ambiente interessa tão somente aos que se locupletam com esse sistema consumista materialista extremado em que o mercado é um verdadeiro deus invisível, ditando o comportamento das pessoas, empresas e nações. Estamos sacrificando a natureza, que foi um presente de Deus para nós, no altar desse deus impiedoso. Acredito que para o Deus da Bíblia o cheiro desse holocausto pós-moderno causa repugnância, ojeriza.

Segundo o relato da criação, Deus criou o homem e a mulher e os colocou no mundo para cuidar dele, como se fosse um jardim. Essa é a tarefa que Deus nos deu, cuidar do mundo como se fosse o jardim de nossa casa. E o que temos feito? Deus criou todas as coisas e viu que tudo era bom. Então não posso colaborar para destruição daquilo que Deus acha ser bom.

Quando as pessoas entenderem que a degradação do meio ambiente é um grave pecado contra Deus (que deve ser amado sobre todas as coisas) e uma agressão contra o próximo (que deve ser amado como a mim mesmo), o Reino de Deus estará mais próximo de nós.

Márcio Rosa da Silva, na Folha de Boa Vista.

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