Amigos do peito desde a universidade, esses dois prodígios do século XVIII chegaram ao Parlamento britânico no início dos seus 20 anos; aos 24, Pitt se elegeu primeiro-ministro (não à toa ganhou o apelido de "O Jovem", para diferenciá-lo de seu pai, de quem herdou o nome e que também ocupara o cargo). Mas, em vez de só fazer alguns discursos e conchavos, como era costume até então, decidiu fortalecer o cargo e implantar um projeto político. Entre os itens prioritários de sua agenda estava banir o tráfico de escravos, que a Inglaterra liderava, e ao qual ele não podia se opor diretamente, já que a maioria dos parlamentares tirava dele, de alguma forma, sua fortuna.
Pitt convocou então Wilberforce para a tarefa, apresentando-o a um grupo de religiosos que eram abolicionistas devotados e convencendo-o a usar toda a sua invectiva, energia e extroversão para pleitear uma lei contra o tráfico. Wilberforce acabou ficando mais realista do que o rei: de 1787, quando iniciou a missão, até sua morte, em 1833, pôs todo o resto de lado para trabalhar pela abolição, erguendo um movimento que ecoaria, nas décadas seguintes, em outros dois grandes centros escravagistas – os Estados Unidos e o Brasil.
Jornada pela Liberdade é um desses filmes de época que os ingleses fazem como ninguém: é convencional (até quadrado, seria possível dizer), mas meticulosamente bem estruturado e narrado, e tem fartura daquele tipo de ator que floresce nas ilhas: gente que sabe vestir uma meia até o joelho e envergar uma peruca empoada sem que pareça estar numa festa a fantasia.
O galês Ioan Gruffudd, de Quarteto Fantástico, é o indominável Wilberforce, que gostava tanto de abrir a cozinha de sua mansão para os mendigos locais quanto de entreter figurões em seu salão. O elegante e longilíneo Benedict Cumberbatch interpreta William Pitt com um misto cativante de esperteza, secura e afeição.
O veterano Michael Gambon (o Alvo Dumbledore de Harry Potter) dá um banho como o conservador que se passa para o lado dos abolicionistas, e Albert Finney encarna de forma soberba John Newton, um ex-capitão de navio negreiro que se arrependeu de seus pecados, compôs o belíssimo hino evangélico Amazing Grace e foi o mentor espiritual de Wilberforce.
Pitt e Wilberforce se opunham à escravidão por razões morais, mas eram duas raposas que sabiam como qualquer outro político usar lábia e artimanhas para chegar aonde queriam. A diferença está, claro, no aonde ao qual eles queriam chegar.
A argumentação de Wilberforce, exposta em décadas de campanha junto ao público, sobre a inviolabilidade do conceito de que todos os homens são iguais foi tomada de empréstimo em parte pelo presidente americano Abraham Lincoln no ato de 1863 que aboliu a escravidão – e praticamente na íntegra por brasileiros como Joaquim Nabuco, Rui Barbosa e o ex-escravo Luiz Gama, que cumpriram no Brasil papel semelhante ao que Wilberforce desempenhou junto aos ingleses.
Eis aí, portanto, o que há de mais inteligente e atual em Jornada pela Liberdade: a defesa que o filme faz da política como uma arena não apenas possível, mas ideal, para o exercício da ética.
ÉPOCAS DIFERENTES, IDEAIS SEMELHANTES
Como Wilberforce influenciou os abolicionistas americanos e brasileiros
ABRAHAM LINCOLN (1809-1865)
O presidente americano durante cujo mandato se desenrolou a Guerra de Secessão – travada primordialmente em razão do escravagismo sulista – compartilhava a visão de William Wilberforce sobre a imoralidade de se possuir um outro ser humano e citava o inglês em seus discursos
JOAQUIM NABUCO (1849-1910)
O diplomata se inspirou no idealismo de Wilberforce para organizar um movimento que pressionou o governo brasileiro a aprovar leis como a do Ventre Livre. Somada à pressão britânica, a militância de Nabuco contribuiu para determinar a abolição da escravatura, em 1888
fonte: Veja
Leia e veja +
- trailer do filme
- Reticências
- Cristianismo verdadeiro, livro de William Wilberforce. Li em 2007 e recomendo! O prefácio foi escrito pelo cientista político e bispo anglicano Robinson Cavalcanti.
3 comentários:
Você digitou tudo isso? pq eu já tinha digitado e colocado no meu blog ...
abração Pava, tb pude observar q já tinha lido o livro
Fica na Graça
Nããão, cara! Mandei o tradicional ctrl c + ctrl v. =]
Big abraço
ABRAHAM LINCOLN anti-escravista só mesmo na VEJA-que-mentira.
Lincoln era um oportunista.
Em resposta aO editorial de um periódico que advogava a libertação imediata dos escravos Lincoln escreveu:
"Se eu pudesse salvar a União sem libertar nenhum escravo, eu o faria; se pudesse salvá-la libertando todos eles, eu o faria; e se pudesse fazer isso libertando alguns e deixando os outros onde estão, também o faria."
Suas idéias em prol da libertação dos escravos eram oriundas menos de uma convicção moral que de uma estratégia visando vencer a Guerra Civil.
Nosso Nabuco, esse sim era um anti-escravagista visionário. Se estivesse entre nós afirmaria que a abolição nunca existiu. E estaria mais uma vez com a razão.
Abraços.
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