Vejo de fora do trem casas, indústrias, árvores. Vejo dentro dele pessoas se amontoando, em busca de um lugar, e não precisa ser na janela. O embarque na plataforma vira uma guerra de espaço, quem está na frente tem uma imensa vantagem e o privilégio de entrar primeiro no vagão lotado.
Sair dele nesta situação é ainda mais difícil. A única preocupação é segurar a mochila, se debater e torcer para que a port se feche no momento em que você já respira o ar puro. Se é que o ar da marginal pode ser considerado puro.
Mochila nas costas novamente, o caminho agora é a escada rolante, de onde escuto gritos vindos lá de cima. Briga, pensei. Assalto, fiquei assustado. Um bêbado, que havia comprado o seu bilhete, se enroscou na catraca. E para ajudá-lo, nada como profissionais bem capacitados a lidar com esse tipo de situação. Pessoas extremamente inteligentes, que passaram por diversas provas e treinamentos pesados para exercer com louvor suas atividades.
Quatro funcionários ajudando tal bêbado, que não tinha consciência alguma de quem era por causa do álcool. A delicadeza do momento se perdia no meio de tanta maestria com que os quatro funcionários conduziam o homem. A maestria de como utilizar o cacetete e a botina de couro pesada. Verdadeiros “lordes” nas palavras e expressões. Ele, que pagou a sua passagem honestamente com o troco da pinga, foi obrigado a se retirar.
E no meio de todas aquelas pessoas, casas, indústrias e árvores, vejo da janela do trem que são precisos quatro seguranças para tirar um bêbado da estação.
Fernando Segredo
20.4.08
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