19.4.08

O abraço do pugilista

O abraço do pugilista é tudo o que precisamos saber sobre o amor. No momento em que ele mais apanha, inventa de se aproximar do oponente e abraçá-lo. Não é curioso?

Abraçar seu algoz. Como se fosse uma reconciliação. Ele se encostará ao ombro do agressor, logo do sujeito que bateu incessantemente em seu rosto, que cortou seus supercílios, que o sangrou com golpes consecutivos e impiedosos. Encurralado, não devolve as braçadas, vai suar o sopro no ouvido do adversário.

Fui chamado de sedutor. Não sou um sedutor: sou um pugilista.

Vejo que homens fazem cursos de macetes de namoro. Contrariar as mulheres levemente, não concordar, elogiar e tirar o elogio para que elas o busquem novamente, acentuar o humor, estabelecer recuos e avanços e - principalmente - não fazerem as gurias pensarem. Algumas lições básicas propagadas como verdades.

Funciona? Pode funcionar para o ego, não para a vida.

O homem supõe que terá mais chance ao suspender o pensamento da mulher e mostrar ação. Paralisar o pensamento dela com um beijo, “deixar disso” para explorar as carícias. Porque conversar a fundo é pensar nos problemas, proteger a nudez, esfriar o começo. Excitar seria não falar.

Vou repetir Lupicinio: "Esses moços, pobres moços/ Oh! Se soubessem o que sei".

A mulher não procura a sedução, procura o abraço do pugilista dentro da sedução.

Que tenha tempo de fugir e não consiga. Que se prepare para aquilo, que venha com todas as suas defesas, que avalie as conseqüências do relacionamento. Que não seja uma vítima, mas uma escolha.

Raro é segurar um olhar com as palavras. E depois manter as palavras com o olhar.

O medo intelectual é a maior aproximação que pode existir. Medo de não ser inteligente, desafiado a não se repetir, esforçar-se para entender, digerir frases ao longo do dia, não desistir da resposta. Ser inspirado a escrever a mesma mulher por toda a vida.

Seduzir é controlar, só o perderemos se avançarmos por onde ninguém quer entrar: a intimidade da linguagem.

O desafio talvez seja tocar numa lembrança mais do que no corpo dela.

Ninguém precisa adivinhar, é ouvir a companhia e guardar o que ela partilha de mais precioso. Guardar o inefável de sua voz. E repetir para dizer que a escuta melhor do que ela própria.

Voltando ao pugilista, o abraço é sua demonstração de fraqueza. Mas é o único jeito de permanecer de pé. O afeto inesperado onde havia disputa.

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Arte de Andy Warhol
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