3.6.08

Levitas na forca

– Agora só falta escolher o nome para a banda.
– Isso é fácil. Meu irmão tem o dom de achar nomes legais na Bíblia.

Para muita gente do rebanho, a Palavra de Deus funciona como uma espécie de coleção de livros com múltiplas utilidades. O pastor vê o povo abatido e decide pregar sobre o valor da fé. Basta uma Chave Bíblica em mãos para literalmente abrir os textos que serão “encaixados” em sua mensagem dominical.

No ministério de música, o expediente é usada com pobreza similar. A escassez de referências neotestamentárias sobre música praticamente empurrou alguns para o Antigo Testamento. Com o mesmo tipo de método preguiçoso que caracteriza a preparação de mensagens de alguns pregadores, bastou pinçar um versículo ali e outros acolá para “restaurar” o ministério levítico.

A estratégia tem-se revelado bem-sucedida, afinal boa parte dos músicos não conhece o que toca, não analisa o que canta e não reflete sobre o que diz crer. A categoria tem uma garganta hipertrofiada que lhes permite deglutir heresias de calibre variados. Brigam com a liderança por causa de sapos minúsculos, mas abrem a boca (e a guarda) para engolir teorias pra lá de questionáveis.

A maioria dos pretensos levitas desconhece princípios elementares das Escrituras. Afinal, é bem mais fácil usar expedientes cômodos como empunhar um shofar ou batizar a banda com a palavra “arca”. Da aliança, não a de Noé, ressalte-se. Desconheço levitas que em suas igrejas exerçam função de juízes (Dt 17.8,9) ou sejam responsáveis por zelar pela saúde dos quem têm lepra (Dt 24.8), por exemplo.

Com uma espécie de toque de Midas ao contrário, para a tribo de incautos a Bíblia deixou de ser fonte de inspiração ilimitada para tornar-se mera camisa-de-força. Em “ministrações” lamurientas, há quem confesse querer “ir além do véu”. Na verdade, o tecido que lhes venda os olhos parece ser ainda mais espesso que aquele rasgado de cima a baixo no momento da morte do Senhor. O triste é que não temos Saramagos ou Meirelles para transformar esse tipo de cegueira em arte...

Ululante lembrar que o arcabouço frágil reflete-se na produção musical fugaz e medíocre. Em certas plagas, começam a aparecer soluções um tanto inusitadas para contornar o problema da falta de inspiração (e transpiração). No ano passado, uma Igreja Metodista de Chicago usou U2 durante a celebração da Ceia, repetindo o que havia acontecido em várias igrejas, incluindo a emblemática Hillsong Church, na Austrália.

No início de maio, o set list na igreja NewSpring Church incluía I surrender all (Tudo entregarei) e The best of you, do Foo Fighters. Aqui no Brasil, na semana seguinte as crianças da Ibab se prepararam para homenagear as mamães ao som de uma curta e elegante versão instrumental de Eu sei que vou te amar (Tom Jobim / Vinicius de Moraes).

Oro com fervor para que os levitas brasileiros jamais abracem esse tipo de estratégia. A julgar pelo mau gosto recorrente, certamente introduziriam nos cultos as obras poéticas de Sandy & Júnior e Amado Batista. Tarimbados em criar extravagâncias supostamente bíblicas, certamente evocariam o nome um tanto “eclesial” do cantor brega goiano. Gol contra para os presbiterianos que não têm seu “amado”. =]

Na década de 80, Steven Patrick Morrissey cantava sobre o pânico instalado nas ruas de Londres e de Birminghan. No final de Panic, canção do álbum Rank, a sentença contra os DJs era explicitada:

Because the music that they constantly play
It says nothing to me about my life
Hang the blessed D.J.

Porque as músicas que eles sempre tocam

Não me dizem nada sobre a minha vida
Enforquem o abençoado DJ

Tomo emprestado os versos dos Smiths para inspirar minha oração pelos levitas, rogando que Deus lhes abra os olhos do coração e as janelas da alma. No patíbulo, uma união simples já resolve tudo. Basta trocar “a corda” por “acorda”. Acooordem, levitas! Nossos ouvidos lhes serão eterna e ternamente gratos.

texto meu fresquinho (sem trocadilho) publicado ontem no site Cristianismo criativo.

13 comentários:

Anônimo disse...

boa pava.
esse texto faz me lembrar da militância do início dos 90, onde o 'legião' proclamava mais q os 'gospels' emergentes. a coisa piorou muito de lá pra cá.
se na busca do extase vale tudo, prefira os levritas.

joão ali

Anônimo disse...

Legal a citação do The Smiths. Uma das minhas bandas preferidas. O interessante foi que quando o Morrisey escreve ua letra de Panic ele estava realmente em crise com as rádios inglesas. A BBC acabara de noticiar o acidente em Chernobil e logo em seguida tocaram o pop adocicado do Wham. Morrisey ficou revoltado e escreveu Panic.

Anônimo disse...

Legal esse texto Pava, só acho que vc maneirou na pimenta, mas tudo bem, cada um que apimente no seu proprio prato.
Essa ideia de MPB nos atos liturgicos...Se a moda pegar.
Vai umas sugestoes:

Não se vá ... (jani e erondi) para despedida de pastores

Quando eu soltar a minha voz... (Gonzaguinha) para antes de mensagem

mirem-se no exemplo... (Chico) para aniversario de SAS

quero uma casa no campo... para culto de prosperidade

amou daquela vez... campanha de construção do templo

Estava a toa na vida... Para pastor jubilado

Quem me dera ao menos uma vez... para culto de missões

Não tinha medo o tal João de santo cristo... para testemunho de ex-bandido

Mais do mesmo... para antes das aulas bíblicas

Help... para antes de assembléia

Ovelha negra da família... para momento de exclusão ou disciplina de membro.


Não me amarrar dinheiro não... para momento dos dízimos e ofertas.

Encosta sua cabecinha no meu ombro e chora... para momento de contrição.

sei que tinha tatuagem no braço e dourado no dente... para cultos de milagres.

chega
gdebj

Maya disse...

"Help... para antes de assembléia"

Perfeito! Vou sugerir pro meu pastor!

Pow, Pava, nós, "levitas de meio expediente" precisamos tanto de gente que nos oriente! Valeu pelo texto, mandou muito bem!

E quando um músico crente pensa na idéia de se tornar músico profissa? Hein? Hein?

Pavarini disse...

Querida,

Falo um pouco disso em outro texto lá no site.
Talentos (não) devem ser explorados
http://www.cristianismocriativo.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=40&Itemid=31

Maya disse...

Obrigada!

Anônimo disse...

Sou membro da ibab e estava no dia da homenagem as mães.Lá não se toca só Vinicius de Moraes mas tb Djavan e não fazemos distinção por ser gospel ou secular. Existe musica boa e música ruim. O que eu ouço no dia-a-dia posso ouvir tb numa homenagem sem problema nenhum (e olha que estamos numa igreja batista hein!!!!!)Não se faz distinção do que vc é durante a semana pro domingo. O Pr. Ariovaldo Ramos, que faz parte dos pastores da ibab,diz que não existe vida cristã, o que existe é vida. Não tem como dividir. Colocamos Deus conosco pra ouvir e fazer tudo sem distinção.Isso não quer dizer que não tenha louvor na ibab. Algumas músicas gospel proclamam menos o evangelho do que por exemplo a musica do jota quest "Dias melhores". Ouçam desarmados e reflitam na letra.

um abraço fiquem na paz
Alexandre Horvath

Anônimo disse...

Isso ai gostei...
muitos nao conseguem vencer o desejo da carne e querem mistura-lo com o divino..temos que lutar contra isso e fazer o que é certo. Mto bem mesmo
um grande abracao
http://projectosemlimites.wordpress.com/

Anônimo disse...

Pava,
conheci seu blog a pouco tempo e já me tornei um frequentador assíduo. Parabéns!
Nunca gostei desse "título" de levita. Levita é o cara da tribo de Levi, que vivia como vc mesmo citou, para servir naquele templo de outros tempos. O levita era um cara que não tinha terra, mas comia dos dízimos dos outros pra sobreviver. Levita foi também aquele cara, que junto com o sacerdote, fez a curva e passou longe do moribundo infeliz, em nome do seu santo ofício, mais importante que amar o próximo.
Portanto, acho um erro, juntamente com um monte de invencionices baseadas num tempo que não existe mais, ressucitarem o termo levita para aquele que louva com sua voz ou instrumento. Isso não tem valor algum se não sai do coração. Legal mesmo é ver uma criança pegar o telefone dizendo que quer ligar pro Papai do Céu...
Eu quero ser como essa criança, deixa esse negócio de ser levita pra lá.
Abraço,

Pavarini disse...

Rogério,

Vc já antecipou o tema de um dos meus próximos textos. =]

Big abraço

Anônimo disse...

>Acho muito ruim quando uma pessoa que não conhece começa a falar BESTEIRA, hoje focam muito no evangélicos, mas, esquecem de outros tipos que colocam leitinho para imagens beber, velas, imaginem velas para clarear a alma de alguém que já morreu, ou em frente as imagens, será que elas são cegas e não conseguem (andar ou ver) sem elas(velas).
Gostaria que em vez de escrever besteiras fossem aprender o que é levita(serviços) e não o de música.
Por favor não sejam ignorantes. Um abraço, e lembrem estude para não fazer burrice.

João disse...

Levitas? Mas que levitas? Essa não! Essa cambada de pseudos evangélicos está inventando cada vez mais coisas esquisitas para confundir os não crentes. Vão ler a Bíblia, gente! Já chega de tanta "banda" e de tanta música do mundo dentro das Igrejas! Aprendam na Bíblia o que era um levita e aprendam o que é música cristã!

Gostei muito do comentário, Pava. Parece-me que num Brasil tão cheio de pseudo evangélicos, a sua voz se levantou para mostrar a essa gente o que é ser crente de verdade. Deus te abençôe!

Anônimo disse...

Pro Alexandre Horvath:
O cristianismo está no buraco porque a maioria, assim como você, entre o que a Bíblia diz e o que um pastor (no seu caso, o Ariovaldo Ramos) diz, prefere ficar com o pastor, mesmo sendo contrário às Escrituras.
Volte-se à pura palavra, enquanto é tempo - a apostasia já está aí!
PAz

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