14.6.08

Tela verde-amarela

O cinema brasileiro recuperou o respeito do público. Na cidade de São Paulo, 65% dos adultos que têm o hábito de ver filmes consideram os títulos brasileiros ótimos ou bons. Entre os espectadores que vão com mais freqüência ao cinema -ao menos uma vez por mês- o índice é maior, de 70%.

A aprovação da maioria do público aos filmes nacionais foi identificada em pesquisa do instituto Datafolha realizada com 598 pessoas entre os últimos dias 8 e 10 de maio.

A opinião dos paulistanos sobre a cinematografia nacional era inversa há 13 anos. Em 1995, 63% consideravam os filmes brasileiros como regulares, ruins ou péssimos. A parcela dos que achavam os títulos nacionais ótimos ou bons era de 32%, segundo o Datafolha.

"Em 1995, não havia filme brasileiro para ver. Os títulos que responderam pela produção naquele momento tiveram uma responsabilidade acima do normal", aponta Sérgio Rizzo, crítico de cinema da Folha.

"Carlota Joaquina"

Apenas 12 longas brasileiros estrearam nos cinemas em 1995. "Carlota Joaquina", de Carla Camurati, fez surpreendentes 1,3 milhão de espectadores e passou a ser considerado o marco zero da "retomada".

A pane na produção de longas no Brasil ocorrera em 1990, quando o presidente Fernando Collor de Mello extinguiu a Embrafilme, órgão estatal de onde saíam as verbas para a realização dos filmes.

A "retomada" foi impulsionada pela Lei do Audiovisual (1993), que inaugurou a etapa de financiamento da produção via renúncia fiscal. Agora, são as empresas que destinam parte de seu Imposto de Renda devido à produção de filmes e têm em recompensa sua imagem de "patrocinadora" divulgada.

"Para mim, está claro que isso [os atuais 65% de aprovação ao filme brasileiro] tem a ver com o tamanho da oferta. Aumentou a chance de o espectador gostar de um filme brasileiro, porque há mais filme brasileiro para ver", diz Rizzo. "Essa equação em cinema vale em qualquer canto do mundo: não há qualidade sem quantidade."

A "constância na produção" também é o "fator mais importante" para explicar a mudança na avaliação do público sobre os filmes brasileiros, na opinião de Pedro Butcher, crítico de cinema da Folha.

Blockbuster nacional

"O que se está colhendo é um esforço de institucionalização [do cinema] e de diálogo [dos filmes] com o público. Mas o Brasil ainda está engatinhando nesse aspecto. Tivemos um período bom [recentemente], mas voltamos a ter uma grande dificuldade de emplacar sucesso", afirma Butcher.

Embora tenha conseguido afastar a fama de ser precário em qualidades e recuperar o crédito do público, o filme brasileiro é amplamente derrotado pelo concorrente hollywoodiano na bilheteria.
Entre os dez filmes mais vistos no país neste ano, apenas um é brasileiro -"Meu Nome Não É Johnny", de Mauro Lima, ocupa o terceiro lugar, com 2,1 milhões de espectadores.

Os filmes brasileiros, que contam com uma reserva de mercado imposta pelo governo federal por meio da cota de tela (a fixação do número de dias de exibição obrigatória de títulos nacionais nos cinemas), respondem por aproximadamente 12% do total de ingressos vendidos no país a cada ano.

A pesquisa Datafolha identificou, no entanto, que 64% dos paulistanos assistiram a algum filme brasileiro nos últimos 12 meses, sendo que 44% o fizeram em DVD ou VHS.Os maiores consumidores de filmes brasileiros têm entre 16 e 40 anos, pertencem às classes A, B e C, têm nível médio ou superior de escolaridade, são solteiros, trabalham e não têm filhos.

Filme em casa

O hábito de ver filmes em casa é a segunda opção cultural favorita dos paulistanos e também a segunda mais freqüente. Perde apenas para o de ouvir música. A parcela de cinéfilos entre a população adulta da cidade, aqueles não abrem mão de ir ao cinema ao menos uma vez por mês, é de 24%.

A indústria de vídeo doméstico não se mostra desatenta ao interesse do espectador por títulos nacionais. No ano passado, 103 filmes brasileiros foram lançados em vídeo, de acordo com levantamento da Ancine (Agência Nacional do Cinema).

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