Não se podem ensinar as delícias do amor com aulas de anatomia e fisiologia dos órgãos sexuais. Não se pode ensinar o prazer da leitura com aulas sobre as ciências da linguagem. O conhecimento da gramática e das ciências da interpretação não fazem poetas. Noel Rosa sabia disso e cantou: “Samba não se aprende no colégio...”.
Cada poema tem um andamento que lhe é próprio. Como na música. Se o primeiro movimento da Sonata ao Luar, de Beethoven, que muitos já ouviram e desejam ouvir de novo, adagio sostenuto, fosse tocado como presto, rapidamente – exatamente as mesmas notas -, a sua beleza se iria. Ficaria ridículo. O tempo de uma peça musical pertence à sua própria essência. Cada texto literário tem também seu próprio tempo.
É importante observar a importância e vitalidade do silêncio, pois é no silêncio que a beleza coloca os seus ovos. É no silêncio que as palavras são chocadas. É no silêncio que se ouve aquela outra voz mencionada por Fernando Pessoa, voz habitante dos interstícios das palavras do poeta. Por isso é irritante quando alguém fala enquanto a música é tocada. É como se estivesse a ver uma partida de futebol enquanto se faz amor.
Textos são como bosques sombrios, mas a beleza reside no mistério de cada texto. Por isso, mistério há multiplicidade de interpretações. A palavra Deus comporta dentro de si um EU. Cada ser humano carrega dentro de si uma visão de Deus.
O que é que o fulano queria dizer? Toda a interpretação começa com essa pergunta. É a pergunta que surge numa zona de obscuridade: há sombras no texto. O intérprete é um ser luminoso. Não suporta sombras. Ele traz então suas lanternas, suas idéias claras e distintas, e trata de iluminar os bosques, dele fogem as criaturas encantadas que habitam as sombras. Esquece-se do que disse Bachelard: “Parece que existem em nós cantos sombrios que toleram apenas uma luz bruxuleante...”. O inconsciente é um bosque sombrio.
Joevan Caitano
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