25.6.08

Um adeus a Ruth Cardoso

Herdei o carinho e admiração a Ruth Cardoso de minha orientadora do doutorado na FGV-SP, Ana Cristina Braga Martes. Cris, como a chamo, foi orientada por Ruth no seu doutoramento na USP e trabalhou como sua assistente de pesquisa por vários anos.

Seriedade na função de pesquisador, a importância da pesquisa de campo, a ética em todo o processo da pesquisa, respeito e liberdade de pensamento aos orientandos foram algumas das atitudes que Cris se orgulha de ter aprendido com Ruth.

Quando eu estava no final de minha tese, Cris me perguntou o que eu achava de convidarmos a Ruth para compor minha banca. Fiquei temeroso e inseguro porque julgava que a tese não estava no nível do quilate de Ruth. Mas confiei no bom senso da Cris. Ela me disse: "Mauricio, pode ter certeza que a Ruth vai ler sua tese com muito cuidado e carinho, e fará contribuições valiosas".

Certamente o convite a ela foi uma das melhores coisas que aconteceu no meu doutorado. Sua participação começou um dia antes de minha defesa, em uma mensagem encaminhada a minha orientadora, em que disse: "Adorei ler esta tese". Essas quatro palavras mudaram o meu estado de ansiedade para serenidade, dando-me coragem para dar o último passo no doutorado.

Ruth chegou sorridente no dia da defesa (22 de fevereiro de 2008). A primeira coisa que chamou minha atenção foi sua vitalidade, incrível para uma mulher de 77 anos. Conversamos um pouco, e contou-me que particularmente nas duas últimas semanas estava trabalhando intensamente na Comunitas na captação de recursos para os projetos em andamento.

A banca iniciou com a Ruth fazendo seus comentários. Ela foi muito generosa e perspicaz na leitura de minha tese, contribuindo em muitos pontos com suas críticas. Seus elogios estão guardados comigo como um tesouro. E, por fim, compreendi melhor a razão da admiração que a Cris tem por ela.

Provavelmente sua participação em minha banca foi sua última atividade na academia. Perde a academia, mas também perde o país, perde a luta pelo fortalecimento da sociedade civil, perde o verdadeiro espírito público. Difícil hoje em dia que o desaparecimento de uma pessoa represente tantas perdas. Mas com a Ruth isso aconteceu.

Vale a pena conferir uma entrevista que a Dra. Ruth Cardoso concedeu à profa. Ana Cristina Braga Martes e ao prof. Mario Aquino Alves (ambos da FGV-SP) e publicado na Revista de Administração de Empresas, em 2006. Tive a honra de ter participado desse texto como editor assistente. Para ler, acesse aqui.

Mauricio C. Serafim

Nenhum comentário:

Blog Widget by LinkWithin