A questão é particularmente polêmica na França, onde há um debate intenso e renovado sobre um preconceito que deveria ter sido sepultado junto com a revolução sexual do país, 40 anos atrás: a importância da virgindade da mulher.
O furor seguiu-se à revelação, duas semanas atrás, de que um tribunal em Lille, no norte da França, anulou um casamento de muçulmanos feito em2006 porque o noivo descobriu que a noiva, ao contrário do que alegara, não era mais virgem.
O drama doméstico atraiu atenções em todo o país. O noivo, um engenheiro não identificado de trinta e poucos anos, saiu do leito conjugal e anunciou aos convidados do casamento, que ainda festejavam, que a sua noiva tinha mentido sobre o seu passado. Naquela mesma noite ela foi deixada na porta da casa dos seus pais.
No dia seguinte, ele procurou um advogado, buscando a anulação do casamento. A noiva, uma estudante de enfermagem de vinte e poucos anos, confessou ao tribunal que não era mais virgem, e concordou com a anulação. No processo não se mencionou a religião. Em vez disso, citou-se uma quebra de contrato, e chegou-se à conclusão de que o engenheiro casou-se depois que ela "apresentou-se a ele como sendo uma moça solteira e casta". Na França secular e republicana, o caso toca em várias questões bastante delicadas: a intromissão da religião na vida cotidiana; as justificativas aceitas para a dissolução de um casamento e a igualdade dos sexos.
Nesta semana o parlamento recebeu telefonemas pedindo a renúncia de Rachida Dati, a ministra da Justiça da França, depois que ela inicialmente acatou a decisão. Dati, que é muçulmana, recuou e ordenou uma apelação.
Alguns advogados, médicos e feministas advertem que a aceitação por parte do tribunal do papel central da virgindade no casamento poderia encorajar mais mulheres francesas de origem muçulmana árabe e africana submeter-se à cirurgia de recuperação do hímen. Mas discute-se muito se a cirurgia é um ato de liberação ou de repressão.
"O julgamento foi uma traição cometida contra as mulheres francesas muçulmanas", afirma a escritora feminista Elisabeth Badinter. "Ele envia a essas mulheres uma mensagem de desespero, ao afirmar que a virgindade é importante aos olhos da lei. Mais mulheres irão dizer para si próprias: 'Meu Deus, não correrei esse risco. Vou recriar a minha virgindade'". (continua)
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