20.7.08

Arrombados

Com molho de chaves especiais, profissional tenta abrir a porta; ele diz ao "cliente" que a Vila Mariana é um dos bairros mais visados

Não é mais preciso um ladrão para arrombar portas. Hoje, com a ajuda de um chaveiro, é possível invadir residências ou sair guiando um carro alheio.

A Folha, agindo como quem perdeu a chave do carro, foi a cinco chaveiros, escolhidos aleatoriamente nas cinco regiões da capital. Todos abriram um Ford Fiesta sem exigir nenhum documento que comprovasse a propriedade do bem.

Segundo a lei estadual 11.066/02, que disciplina a profissão, os serviços prestados devem ser registrados num formulário padronizado, com a autorização do cliente.

"O formulário nunca foi implantado", diz Paulo Sérgio Dezen, 49, que foi presidente do extinto sindicato da categoria.

Para Francisco Canindé, 42, presidente da Asbrac (Associação Brasileira do Grupo de Chaveiros), todo profissional deveria ser cadastrado. "Pagando, qualquer um pode fazer curso que ensina a abrir até cofre. Não existe fiscalização."

O governo do Estado justifica ser inconstitucional a lei, pois ela cria gastos para a Secretaria da Segurança Pública. É responsabilidade do órgão fiscalizar o serviço e dar cursos aos chaveiros -só o governo pode criar uma lei dispendiosa.

Segundo o chaveiro Marcelo Freitas Cavalcante, 35, nos EUA, a polícia deve acompanhar a abertura -o consulado do país no Rio, que reúne um centro de pesquisa, diz não ter como confirmar a informação.

Por confiar na "boa-fé" dos clientes, Adalberto Salgado, 44, quase se deu mal. "Um pai queria me processar porque o filho, menor de idade, bateu o carro da família. O garoto mandou fazer uma chave-reserva sem a autorização dele."

Um chaveiro é capaz de abrir um carro em menos de 20 segundos. O serviço custa cerca de R$ 40, mas o preço pode dobrar de acordo com a marca do veículo e o bairro em que está.


Fonte: Folha Veículos

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