Depois de conquistar o Rio, Wagner Domingues da Costa, o Mr. Catra, é sucesso na periferia de São Paulo e começa a invadir outros redutos da capital com um som que mescla religião e sexo
por Nathalia Lavigne / foto Maria do Carmo
Ele mistura religião e pornografia com a mesma naturalidade com que defende a poligamia e inventa uma corrente do judaísmo. Em menos de dez minutos, vai do louvor católico "O Senhor é Meu Pastor e Nada me Faltará", intercalado às vezes por rezas em hebraico, ao "hino da putaria", sem esquecer de exaltar "o bonde dos maconheiros".
Assistir a um show de Mr. Catra é como ir de um culto evangélico às casas de banho, onde também costuma cantar, em apenas meia hora. Conhecido no Rio de Janeiro por sua personalidade controversa, sua voz grave e rouca e pelo recente sucesso "Adultério", uma versão picante da música "Tédio", do Biquíni Cavadão, Wagner Domingues da Costa, 39, o Mr.Catra, se apresenta com freqüência na periferia de São Paulo.
Durante a sessão de fotos na avenida Paulista para a Revista, é abordado por um motoboy que se diz seu fã, numa demonstração que não é desconhecido na cidade. Já começa a expandir seus domínios além da periferia. No mês que vem, será um dos artistas residentes na reinauguração da Jive, em Higienópolis. Sua primeira noite na balada na região central de São Paulo está marcada para o dia 18 do próximo mês, quando vai se apresentar ao lado de convidados.
Foi rezando um pai-nosso que ele abriu seu show na Nação Tan Tan, em Itaquera, zona leste da cidade, numa madrugada de sábado. E não foi apenas quando a Mulher Filé entrou no palco e começou a "Dança do Pisca", música que Catra compôs para a nova musa do funk carioca que "pisca" o bumbum, que a platéia foi ao delírio. Dos versos cifrados em que critica a polícia carioca ao hino erótico "Vem Todo Mundo", passando pelo estourado refrão "Vai rolar um adultério", o público que lotou a casa demonstrou conhecer todo o repertório, cantando junto com o funkeiro do início ao fim.
Como costumam ser as turnês noturnas de Catra, outras duas apresentações estavam marcadas para a mesma noite. Antes de Itaquera, já havia passado por Guarulhos e, por volta das 3h, ainda iria encerrar a noite em Santos.
Enquanto se prepara para a longa madrugada, o músico recebe um grupo com cerca de dez pessoas em um flat na região da Bela Vista que comprou este ano. Circulando entre o funk das favelas cariocas e o rap da periferia de São Paulo, ele reúne com freqüência representantes dos grupos considerados rivais para participações em seus shows. É no pequeno espaço de seu flat que desconhecidos MCs cariocas convivem harmoniosamente com nomes populares do hip hop paulistano, como a cantora Quelynah (da série "Antônia") e a rapper Suppa Fla, amiga de Catra há dez anos.
Nos últimos retoques de sua chapinha e ajeitando o minúsculo shortinho amarelo, a ex-vendedora Yane De Simone, 21, se prepara para sua desgastante apresentação como Mulher Filé. Ela entra no show quando o funkeiro anuncia o início do repertório erótico, com a frase que tornou célebre suas apresentações: "Agora vai começar a putaria". O ponto alto é quando Catra pede um cartão de crédito a alguém da platéia, usado pela Mulher Filé para comprovar seus dotes de "piscar o bumbum", segurando-o por alguns segundos.
Sagrada família
Para garantir esta performance e agüentar até 18 shows em um fim de semana, é preciso ter preparo físico, além de 100 cm de quadril. A dançarina fala deslumbrada de sua personagem, criada por Catra para concorrer com a Mulher Melancia, do Créu. "O Catra nunca precisou de dançarina, é uma oportunidade que ele está me dando", agradece. "Ele ajuda muito o pessoal da comunidade. Chama os funkeiros mais próximos de 'Sagrada Família' e sempre os convida para cantar com ele."
Nascido na Tijuca, zona norte do Rio de Janeiro, Catra teve uma infância mais parecida com a dos garotos de classe média da região do que com a dos que vivem no morro do Borel, onde sua mãe morava. Criado na casa onde ela trabalhava como doméstica, na rua Dr. Catrambi, (de onde veio seu apelido), Catra estudou no Pedro 2º, um dos colégios mais tradicionais do Rio. Foi nessa época que o então líder estudantil montou "O Beco", banda de rock razoavelmente conhecida nos anos 1980. Ainda distante do funk e sem seu codinome atual, teve uma banda de rap chamada "Contexto" quando era conhecido como Negativo.
Sua origem no rock e a passagem pelo hip hop permitem a Catra hoje circular entre grupos tão distintos. Além de ser o único funkeiro a vestir a marca Manos, que só patrocina artistas do hip hop, o artista já trabalhou com MV Bill e gravou recentemente com Marcelo D2.
"Conheço o Catra desde quando ele era do Contexto, grupo da mesma época do Planet Hemp", conta D2, que passou anos sem notícias do amigo, até ele reaparecer com outro nome e estilo de música, cantando seu primeiro funk de sucesso, "O Simpático". "O personagem Catra engoliu o Negativo. É um dos caras que mais representa o funk do morro."
A relação de Catra com a religião não dura apenas os dez primeiros minutos de seu show. Mas também não dá para distinguir o que é prática do que não passa de um discurso.
Ex-evangélico, Catra diz ter se convertido ao judaísmo depois de visitar o Muro das Lamentações, em uma viagem a Israel, há cinco anos. Mas, naquela noite de sábado, sétimo dia do Pessach, parecia ignorar os preceitos da Páscoa judaica. "No meu trabalho, não tem como seguir [o Pessach]. Mas as orações estão sendo feitas", diz o cantor.
"Crescei e multiplicai-vos"
Ele também não costuma freqüentar sinagogas - "pois não tem preto nem favelado judeu no Rio de Janeiro"- e nunca deixa de trabalhar no dia sagrado da religião judaica, que começa no pôr-do-sol da sexta-feira e vai até o anoitecer do sábado, quando deve ser feito repouso. "O shabat está no meu espírito", garante.
Graças a essas convicções religiosas estritamente individuais, Catra criou até uma vertente do judaísmo e se auto-intitula um "judeu salomônico", aquele que segue os princípios de Salomão. "Não tenho conhecimento de uma corrente judaica salomônica", diz o rabino Michel Schlesinger, 31, da Congregação Israelita Paulista.
Conhecido por suas 700 mulheres e 300 concubinas, o terceiro rei de Israel exerce um fascínio sobre o funkeiro, que defende a poligamia- proibida no judaísmo, explica o rabino Michel, desde o ano 1000. A justificativa de Catra é que nascem mais mulheres e a maioria dos homens é "viado ou viciado". Para ele, se fosse possível ter mais de uma mulher, haveria mais famílias completas.
Casado há dez anos, Catra parece se guiar por outra passagem bíblica que está no livro dos Gênesis: "Crescei e multiplicai-vos". Diz ser pai de 15 filhos com sete mulheres. Vive com sete deles e o 16º está a caminho.
Fonte: Revista da Folha
3 comentários:
bizaaaaaaaaaaaaaaaaaaaro
Deus perdoa-lhes porque não sabem o que fazem...
E nescessario q venha os escandalos, mas...ai de qm o escandalo vier!
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