O amarelo fosco acompanha-me há muito. Na infância, faltando a pelada no asfalto ou o pique-esconde, restava-me o consolo e a companhia de um ser incorpóreo cuja morada era um cano velho que colhia a água da chuva. Nas entranhas do cano, o amarelo fosco.
Se o amarelo que envolve homens e mulheres representados em certas pinturas sacras é vivo, indicando a santidade inquestionável daquelas figuras, o amarelo fosco denuncia minha espiritualidade desbotada, o destino invariavelmente frustrado de minhas expedições nas trilhas daquele a que chamo Mestre.
Minha relação com o conhecimento é também marcada por esse aspecto embaciado e mal resolvido. Foi me dado conhecer apenas precariamente, como alguém que vasculha noturna biblioteca iluminado apenas por uma lua mortiça.
Caríssimo leitor, sou tentando a evitar tempestivamente e não sem um sorriso cruel a originalidade do gracejo que anda incomodando a ponta de sua língua: amarelo tosco. Foscas ou toscas, fato é que idéias que aqui gravarei só poderão ser gravadas com a tinta de que disponho: impermanente e débil.
Resta-me lamentar e suspirar uma dezena de foscos perdões.
Alysson Amorim, de volta c/ o novíssimo blog Amarelo Fosco.
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