19.7.08

Verdades e mentiras de quem escreve

Fernando Pessoa afirmou que “o poeta é um fingidor e finge tão completamente que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente”. Lamento, sou um noviço nessa arte. Escrevo há alguns anos neste site e ainda não aprendi os limites da dissimulação literária. Acabei revelando minhas intimidades, expus minhas vísceras existenciais e, pior, confessei minhas dúvidas espirituais. Minha redação não me escondeu como gostaria (ou precisava) e quase me ferrei.

Eu me lembro exatamente de como este site nasceu. Participei de um programa de discipulado com encontros semestrais, aí pensei em preencher os meses intervalados com textos para a meditação do grupo. Depois, a pedidos, passei a enviar minhas reflexões para uma lista de endereços. Nesse embalo, o meu amigo Robson Severgnini sugeriu a criação de um site.

Municio este espaço com pelo menos três posts por semana. Aqui, procuro fazer literatura, embora reconheça os limites (faltei as aulas de português). Poetizo, embora atabalhoado. Teologizo com temor. Filosofo amadoramente. O problema é que não aprendi a brincar de esconde-esconde enquanto meus dedos bailam pelo teclado.

Amigos já advertiram: “Ricardo, a internet é terra de ninguém; pessoas inescrupulosas vão pegar o que você escreve para lhe atacar; escreva obviedades, não se exponha”. Acontece que escrever já é difícil, obviedades, então, impossíveis para mim. Schopenhauer afirmou em “A arte de escrever” que “todo escritor medíocre procura mascarar seu estilo próprio e natural. Isso o obriga, em primeiro lugar, a renunciar a toda ingenuidade”. Para escrever bem, eu preciso manter essa tal ingenuidade; sem ela eu me policio e acabo envernizado pelo status quo, adestrado pela censura dos bedéis da fé.

Então, para continuar a escrever tomei a decisão de não passar da segunda linha de mensagens mal-educadas. Criei um sistema que pulveriza e-mails desaforados em menos de cinco segundos. Também, não vou desperdiçar o site respondendo as questiúnculas que afligem muitos religiosos, como, dízimo, guarda do sábado, sexo oral e anal, masturbação, vinho, “onde estão as tábuas da lei?”, namoro de crente com descrente e outras “cositas mas”. Estas “verdades importantíssimas” precisam de um bom fundamentalista – e eles têm excelentes blogs.

Quero tão somente que meu texto destile verdade, mesmo confusa, infantil, tosca, mas que espelhe a integridade de minha alma. Como decidi não blefar no jogo bibliográfico, não terei “um olhar oblíquo e dissimulado” quando estiver frente a frente com meu querido leitor anônimo.

Soli Deo Gloria.

Ricardo Gondim

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