24.8.08

O silêncio do pensamento

Esquecemos que as preces instigam nossa alma à reverência, e nada mais rude o devaneio religioso que afasta Deus dos nuviosos pensamentos. Pensamentos nublados pelo resplendor do espírito que direciona a mente infestada pelas devidas etiquetas, desvanecendo lentamente a essência da contemplação.

A prece é penitência, se com ela temos o teor de trazê-la aos patamares mais insignificantes do divino.

O que há de mais belo é o sagrado no secreto: encontramos confissões assombrosas ao confortador Deus, que pela simplicidade traz a ruína à retórica das longas prédicas. Quais os alicerces das construções erigidas sobre as preces de muitos preletores, do discurso que perpassa a cordialidade para invadir o pestilento salão das palavras certeiras?

Os beatos se elevam em circunstâncias menos previsíveis, já advertidos pelo Mestre.

“Há pensamentos que são orações”, disse Victor Hugo. A alma se ajoelha perante o silêncio da oração - e as lágrimas lavam a dissimulação constrangedora do coletivismo - para que sejamos lembrados acerca da prece como reverência: a oração como silêncio do pensamento.

A pândega das vozes pietistas clamando pelo incessante olhar de Deus faz da contemplação o eterno desespero, como meninos ansiosos ao imerecido presente do pai, que pode inevitavelmente decidir o contrário. Temem eles serem ignorados, e com esforço se sustentam nas extremidades da abissal convicção.

Divinamente somos direcionados ao isolamento. No silêncio escuta-se Deus.

Filipe Liepkan, no blog O Templo Felpo.

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