A verdade é que na universidade esse problema é menor e esconde uma briga muito mais feroz. A briga com a teologia é menos significativa por duas razões básicas. A primeira razão é que o darwinismo é materialista como as ciências "duras" enquanto a teologia não é, e por isso ela toma de dez a zero.
A segunda razão é que a teologia é a louca da casa (vive de favor na universidade, não é ciência nem filosofia), relegada ao lugar de vender Jesus como um bom parceiro em lutas sociais ou um bom amigo quando você está deprimido, por culpa dos próprios teólogos que barateiam Deus.
Com exceção da medicina, nenhuma "ciência" deveria se comprometer com a felicidade porque ela sempre fica boba quando faz isso. Explico-me: ou a teologia rompe com a "felicidade" ou ela será sempre ridícula.
A briga séria é entre o darwinismo e as teorias que negam qualquer influência biológica definitiva no comportamento humano. Existe um pânico contra a psicologia evolucionista e o macaco no homem e a macaca na mulher. E como a universidade funciona em lobbies, com perseguições e inquisições, facilmente você pode calar alguém se ele ou ela não concordar com você. A universidade é um dos lugares menos democráticos do planeta.
Essas teorias que temem o macaco afirmam que tudo no humano é socialmente construído. Obviamente essas teorias acham que salvarão o mundo, construindo seres humanos livres de seus instintos indesejáveis. Dizem elas: dê uma boneca cor de rosa pra meninos e eles crescerão pensando que são Cinderela. Se a boneca for um bebê, o menino terá desejos de amamentar bebês. Se ensinarmos as meninas a bater nos outros, elas serão como Clint Eastwood.
Desde a caverna a humanidade está dividida em machos e fêmeas, com variações aqui e ali, e que devem ser respeitadas na sua diversidade. De repente é a "ideologia" que ensina você a "escolher" o sexo. Mentira: ninguém "escolhe" o sexo. A palavra "ideologia" deveria ser acompanhada com frases do tipo "o Ministério da Saúde adverte...". A facilidade com a qual deixamos de falar em "sexo" e passamos a falar em "gênero" (sexualidade construída socialmente) revela a superficialidade da idéia.
Qual o problema desse delírio? Por exemplo, ele invade as escolas, e os professores um dia dirão para as crianças que não existem machos e fêmeas na espécie humana e que hábitos morais são "pura invenção".
Professores de escolas costumam se viciar em pensamentos da moda. Essas modas pioram as já difíceis relações entre homens e mulheres depois da emancipação feminina. Por exemplo, essas modas dizem aos homens: sejam sensíveis e chorem. O problema é que a sofrida macaca na mulher, assustada ancestralmente com o parto dolorido e arriscado, tende a ser seletiva na vida sexual. De nada serve a ela, nunca serviu, machos que choram. Aí o marido chorão "dança", apesar do "coro do gênero" dizer o contrário. Dizem "tudo bem se o homem for sustentado pela mulher".
Imaginemos nossas mulheres ancestrais com barrigas grandes tendo que caçar para homens-macacos preguiçosos. Elas até podem, mas não gostam. Será que por isso a imagem de força, segurança e experiência entusiasmam nossas mulheres normais? Fêmeas promíscuas ficavam mais grávidas e há 100 mil anos isso aumentava o risco de morrer de parto e de carregar crias pesadas.
Sexo é fisiologicamente caro para as mulheres e barato para os homens, e isso não é ideológico. Nossas fêmeas inteligentes perceberam isso e "transmitiram essa natureza perspicaz para sua prole feminina". Na savana africana, deveria existir uma luta pelo direito ao pudor.
O fato é que ninguém sabe onde começa e termina a relação entre natureza e cultura. Qualquer afirmação nessa área é pura especulação. Um pouco de senso comum ajudaria os profetas da "natureza zero" serem menos delirantes: seria normal imaginar que somos uma mistura de natureza e cultura, coisa que qualquer pessoa comum sabe.
O lançamento da coleção de DVDs "Evolução" (ed. Duetto) é boa chance de conhecer o darwinismo sem medo e com bela apresentação visual. Da próxima vez que você for ao zoológico, olhe no olho de um chimpanzé e veja se não parece haver ali uma alma encarcerada como a sua.
texto de estréia de Luiz Felipe Pondé na Folha de S.Paulo.
na foto do Alex Fajardo, detalhe do visual do filósofo no debate promovido pela Mundo Cristão que rolou sexta-feira passada na Bienal do Livro.
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9 comentários:
Fala Pava,
Quanto ao debate, Pondé foi muito coerente quanto às suas teorias, porém, caiu num erro que a religião promoveu durante toda a sua existência, criticou a visão utilitarista; "graças a Deus"(rsrs) Gondim e Jung responderam com a mudança da idéia, dizendo que o "deus" cristicado por Pondé não é o Deus das escrituras!
Esse texto da Folha, já pode fazer parte das "95 teses" em defesa do Darwinismo!hehe
Abração!
Ruinzinho. Ele parte do próprio descrédito às idéias contrárias para simplesmente zombar delas com quase-argumentos com pouco ou nenhum sentido.
Espero que ele melhore a má impressão em seus próximos textos.
Aê Teo.
O Pondé é um bom provocador. Responder "gostei" ou "naum gostei" traz o debate p/ o simplismo de rodapé preponderante no meio gospel.
Big abraço
Pava, só vale lançar argumentos contra argumentos. Pseudo-argumentos não merecem réplica. A crítica dele é apaixonada, e apenas zomba da opinião oposta. Os poucos argumentos são obscuras especulações antropológicas e biológicas, usadas como verdade absoluta contra o pensamento contrário.
Teo, recomendo a vc conferir a participação dpo Pondé no debate s/ "Fé e descrença".
Ele discorreu s/ 4 caras que "deixaram a teologia de joelhos" (Nietzsche, Darwin, Marx e Freud).
Discordo frontalmente de vários argumentos dele, mas não deixo de frisar não apenas a disposição p/ o diálogo como o brilhantismo da argumentação.
Enquanto nossas convicções circunscrevem-se a revistas em decadência e jornais denominacionais, quem tem um pouco + de solidez na argumentação nada de braçadas. E nós nos restringimos ao "nada". hehe
abs, brother.
Eu entrei no site Casa do saber, para ouvir uma palestra do Pondé, é no mínimo 180 dinheiro por cabeça !!
Com certeza ele instiga a pensar e provoca quem esta fazendo o "nada" de sempre na teológia acadêmica. Aliás, no meio teologico acadêmico e humano, poucos como o Jung e o Gondim poderiam estar sentados naquela mesa para trocar idéias a altura com Pondé.
Acredito que a palestra pode ter sido Boa, Pava. Mas o texto não é.
E, diga-se de passagem, eu não sei o que é o conteúdo de revistas gospel. Também nunca li um jornal denominacional em 8 anos freqüentando uma igreja.
Pavarini,
faço-te companhia no entendimento de que a modernidade acuou o pensamento cristão.
Também acho que não é dizendo que os caros estão errados ou mentindo que convenceremos que estamos certos - não é assim que se desata ou corta o nó górdio. É claro que estamos certos e eles errados, mas essa é uma constatação "doméstica", hehe.
O pior é que nossa apologética, do jeito que está (atrasada e encapsulada), não convence nem os da fé: no Brasil, os debates ocorrem entre os crentes mesmo, e só. Enquanto o pensamento cristão não garantir espaços nas Universidades (e não o contrário) permaneceremos nessa penúria.
Ah, alguém me explica o que é um pseudo-argumento?
Raquel
A impressão que o autor dá é que ele nunca assistiu uma aula de Teologia em uma instituição séria e que os seus comentários são "só de ouvir falar".
Ele ignora completamente o pensamento fenomenológico e da pós-modernidade, que jogou por terra a mentira científica, a saber, a objetividade, e generalizou a produção teológica medindo por baixo.
Ele pode ter discursado sobre Nietzsche, mas se ele escreveu este texto a sério, me arrisco a dizer que ele não leu as entrelinhas de "A Gaia Ciência" e caiu no erro comum de pensar que o autor simplesmente "Matou Deus", deixando "de quatro" a teologia.
Espero que dá próxima vez o texto tenha um pouco menos de "paixão" antes de pretender chamar a teologia de "a louca da vez".
[]'s
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