14.9.08

Supremo libertador ou fardo intolerável?

Como alguém se torna discípulo de Jesus?

Uma dessas respostas é a idéia de que alguém se torna discípulo de Jesus, por imitação. Thomas A. Kempis em seu clássico A imitação de Cristo parece recomendar este modo. Kempis diz: “Portanto deixe nosso estudo supremo ser – a vida de Jesus Cristo … porque qualquer que deseje compreender as palavras de Cristo e o seu sabor deve estudar para moldar toda a sua vida à vida de Jesus”. Um livro popular nos convida a perguntar em cada situação: O que Jesus faria agora? É uma boa pergunta. Mas também é uma pergunta muito deprimente.

Por um lado a idéia de imitação está implícita no discipulado. É literalmente verdadeiro que nos tornamos como a pessoa que estamos seguindo. Jesus disse isto: “O discípulo não está acima do seu mestre, mas todo aquele que for bem preparado será como o seu mestre.” (Lucas 6.40). Os filhos inevitavelmente imitam seus pais de um modo que se torna uma auto-revelação embaraçosa para seus próprios pais. Assim como o discipulado, a paternidade é literalmente um processo de imitação. O aprendiz geralmente não consegue descobrir o que o seu mestre sabe. Mais importante, o aprendiz se torna como o seu mestre. Nós nos tornamos iguais às pessoas a quem nos associamos. Mas imitar a única pessoa perfeita que já agraciou a história humana é um ideal impossível. O chamamento característico de Jesus aos seus discípulos não foi “imitem-me”, e sim “sigam-me”.

Em nenhum momento podemos nos virar para alguém, como Jesus fez para aqueles que investigavam sua vida, e dizer “qual de vocês me acusa de pecado?” O esforço para imitar a vida perfeita de Jesus pode mesmo se tornar uma forma de trabalho ou um alvo de integridade perfeita de modo que nos empenhamos em direção a um ideal tão impossível que se torna um fardo intolerável. O teólogo P.T. Forsyth estava certo quando disse que Jesus é nosso supremo libertador ou nosso fardo intolerável. Como modelo ele é o máximo, se tivesse pedido que o copiássemos.

Alguém poderia de modo zeloso imitar Jesus e tentar obedecer seus mandamentos sem se tornar um discípulo. Como o filho mais velho da Parábola do Filho Pródigo, alguém poderia dizer a seu pai de modo farisaico: “Olha ! todos esses anos tenho trabalhado como um escravo ao teu serviço e nunca desobedeci as tuas ordens.” (Lucas 15.29) A suprema tragédia daquele homem “bom” foi que, apesar de haver trabalhado arduamente e vivido sob as ordens do pai, ele não conhecia o pai. Como um exemplo de um “quase cristão”, o irmão mais velho nos mostra que há mais no discipulado do que imitar e obedecer. Em uma relação de intimidade deve haver “o conhecer e ser conhecido”. Não pode haver maior tragédia do que alguém chegar ao final da vida e ser confrontado com estas devastadoras palavras do Deus do universo: “Nunca os conheci” (Mateus 7.23).

trechos do capítulo "Discípulos de Jesus", escrito por R. Paul Stevens no livro Espiritualidade Bíblica, recém lançado pela editora Palavra.

via blog do Alex Fajardo

Leia e veja +

Nenhum comentário:

Blog Widget by LinkWithin