Bons anos após a fatídica queda das Torres Gêmeas, o que sobrou da política americana? Assombrada pelo fracassado fantasma da Guerra do Vietnã, a economia estadunidense entra em colapso após financiar a enviada de jovens e armas ao Iraque, resultando em um fim de reinado com altas taxas de rejeição para Bush filho. Caberá a McCain ou Obama adestrarem a águia enfurecida.
Neste caos, o que restou aos jovens alienados que não foram à guerra, mas sobraram em Nova Yorque obrigados a agüentar a própria existência vazia e bagunçada? Que tal ‘um pouco’ de sexo sem culpa para esquecer os problemas?
É neste contexto que nos encontramos com os personagens problemáticos e suas orgias em Shortbus (2006), do diretor texano John Cameron Mitchell. “Shortbus mostra à que veio ainda nos primeiros minutos de filme. Alternando duas cenas de cunho sexual explícito protagonizadas por personagens distintos, já é possível entender que é um filme que passa longe do comportamento conservador-moralista americano, que retornou com força durante os anos de presidência de George W. Bush.” , nos conta Rafaela Zampier do Cine Players.
Pelo visto tanta repressão sexual não funcionou para os traumatizados nova-iorquinos, e sim impulsionou a fazê-los protestar de forma irônica quanto à situação da América, como escreve Rodrigo Carreiro do Cine Repórter: “Neste sentido, Shortbus parece funcionar como um grito de protesto contra os tempos turbulentos da Aids, em que o sexo vem sempre acompanhado por um sinal de ‘cuidado’.
Evidentemente, o longa-metragem não é uma ode à promiscuidade sexual, muito embora o comportamento dos personagens seja um bocado hedonista. É preciso interpretar esse comportamento, porém, como uma estratégia política – e não foi à toa, portanto, que o cineasta não se cansou de mencionar paralelos de fundo político nas dezenas de entrevistas de divulgação que deu para promover o lançamento. Se a hilariante seqüência em que três garotões transam cantando o hino dos EUA não é um momento político carregado de furioso simbolismo, não sei mais o que é cinema político.”
Eduardo Simões da Folha também enfatiza essa transgressão como escapismo político, comparando o modelo atual com o que se viveu na ‘hippie-paz-e-amor’ década de 60. “Os atores escolheram seus nomes e ajudaram a determinar seus conflitos que, se já não são assombrados pela Aids, não deixam de conviver com outro fantasma: o 11 de Setembro. O atentado está presente no longa, seja insinuado na ‘forma’ dos piques de luz e eventual blecaute que acontecem no filme. Ou na tristeza, vazio e solidão que levam seus personagens a freqüentar o Shortbus, misto de clube de sexo e cabaré, que ‘lembra os anos 60, só que com menos esperança’, como observa Justin Bond, famosa drag queen nova-iorquina que faz ponta no filme.”
Esperança ou desconsolo, votando ou protestando o cinema americano underground vem encontrando brechas para se infiltrar pela hipócrita cultura americana como um tumor benigno que quer só incomodar e lembrar que o perigo ainda está nos rondando e cercando pelas sombras.
Mariana Bonfim, no blog Movie You.
7.10.08
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