15.10.08

Zona eleitoral (58)

Desde o início do processo eleitoral em Vila Velha, Hércules Silveira (PMDB) e Neucimar Fraga (PR) negam que têm feito uma campanha baseada em bandeiras religiosas. Tanto um como outro afirmam que, caso eleitos, farão um governo voltado para todos os moradores da cidade, sem privilegiar ou discriminar nenhum grupo ou segmento religioso, e a despeito de sua própria opção religiosa.

Mas, nas ruas de Vila Velha, queiram ou não os candidatos, o debate eleitoral no segundo turno tem adquirido claramente uma conotação religiosa, que tem deixado no esquecimento até mesmo o debate político-ideológico. A cidade está dominada por uma série de rumores, de parte a parte, que circulam desde o início do processo e agora se intensificaram rumores que contrariam os discursos de respeito à diversidade.

Alguns eleitores de Neucimar, em boa parte evangélicos como o candidato, vêm "plantando", por exemplo, que Hércules poderia dar fim ao Jesus Vida Verão, evento tradicional que reúne especialmente evangélicos para cultos e shows na Praia da Costa, durante o mês de janeiro. Na outra frente, alguns eleitores de Hércules, em boa parte católicos como ele, têm alimentado o rumor de que, se eleito, Neucimar poderia extinguir a tradicional Festa da Penha, maior celebração popular com caráter religioso do Espírito Santo. Outros chegaram até a afirmar que Hércules teria ligação com religiões de matriz africana, pelo fato de só andar vestido de branco.

Embora ninguém comprove a veracidade dos rumores e os próprios candidatos os recusem com veemência, muitos agentes políticos e religiosos na cidade confirmam pelo menos dois pontos: os rumores têm ganhado intensidade entre os eleitores das duas frentes religiosas; e católicos e evangélicos têm se perfilado respectivamente a Hércules e a Neucimar por serem da mesma denominação. Ou seja, a maioria dos eleitores canelas-verdes tem determinado o voto em função da religião professada pelo candidato.

O vereador eleito de Vila Velha, João Batista Babá (PT), ligado às comunidades eclesiais de base da Igreja Católica, confirma a circulação dos rumores contra Neucimar no meio dos católicos, embora pessoalmente não lhes dê crédito: "Temos ouvido esses rumores desde o início. Mas eu sinceramente não acredito que um dos dois seria tão fundamentalista e sectário do ponto de vista religioso para acabar com uma festa popular. Seria um atentado contra os irmãos de outra religião e uma inconseqüência fora do comum por parte de homens que se dizem públicos, num país laico como o Brasil", avalia.

Babá também tem observado o fortalecimento do "voto devoto": "Não vi ninguém com proposições absurdas nesse sentido, mas começou a haver uma polarização religiosa do debate eleitoral. Tenho observado muita gente dizer que vai votar em Hércules por ele ser católico, e em Neucimar por ser evangélico."

Crise política em associação de evangélicos

O episódio do lançamento do manifesto contra Hércules e Neucimar a uma semana da votação em primeiro turno ainda gera desdobramentos. No caso dos evangélicos representados na Aplevv, o manifesto foi o estopim de uma crise interna.

Lançada pelos quatro candidatos derrotados no primeiro turno, a carta também contou com a assinatura da entidade. Na ocasião, porém, o presidente licenciado e candidato a vice de Vereza, pastor Alcemir Pantaleão, negou que falasse em nome da Aplevv, versão mantida por ele. Pressionado por colegas, o então presidente interino, pastor Gilmar Azeredo, renunciou ao cargo, após explicar sua isenção. Já o pastor Alcemir, que poderia retornar ao posto, apresentou uma carta de renúncia, que será discutida hoje à noite.

Neucimar arrebanha pastores evangélicos

"O fator religioso vai pesar consideravelmente. Infelizmente, as pessoas ainda decidem o voto pela condição religiosa do candidato." A opinião é do Pastor Alcemir Pantaleão (PT), candidato a vice na chapa de Claúdio Vereza (PT) e presidente licenciado da Associação de Pastores e Líderes Evangélicos de Vila Velha (Aplevv).

Apesar de condenar a confusão de religião com política, o pastor reconhece que muitos dos 180 pastores de diversas denominações associados à entidade estão veladamente pedindo votos para Neucimar, em virtude da divisão entre católicos e evangélicos na cidade. "Há uma guerra religiosa velada há muito tempo em Vila Velha. Eu diria que esse contexto de disputa de espaço é maior por parte dos católicos, talvez pelo fato de um evangélico governar a cidade há oito anos (Max Filho é presbiteriano)." O pastor lembrou que, quando foi vice de Vereza, uma estratégia para atrair o voto evangélico, o deputado era freqüentemente questionado por católicos pela escolha do vice.

Segundo o pastor, a Aplevv mantém a isenção no processo, mas a maioria dos diretores apóia Neucimar. Um deles, pastor Marco Aurélio de Oliveira, é presidente do Fórum Político da entidade. Ele afirma, porém, que a posição é pessoal e que não usa os cultos para fazer campanha. O próprio presidente em exercício, pastor Wandelrey Pacheco, é coordenador de campanha do segmento evangélico de Neucimar, que, por sua vez, também é membro da entidade, na condição de líder evangélico.

fonte: A Gazeta
dica da Rina Noronha via twitter

Um comentário:

Anônimo disse...

Se a igreja considera-se leiga e não admite a interferência do estado, o estado também é laico e não deveria admitir nenhuma influência religiosa, pois trabalha em prol de uma organização político-administrativa e não de uma organização religiosa.
O estado deveria também regulamentar as candidaturas e tratar candidatos como simples cidadãos e não aceitar que as prerrogativas sociais, políticas, administrativas e de posição, que os diferenciem de simples cidadãos.
Assim como alguns tem que renunciar ao seu cargo público para se candidatar, pois estaria em vantagem pela posição ou cargo que ocupa, os pastores que pleiteiam a candidatura deveriam também renunciar às suas funções pastorais e inclusíve ao título. Título é uma diferenciação.
O que seria uma vergonha para um pastor. Já foi eleito por Deus como pastor, função nobre que transcende a este mundo.
Deixar uma vocação divina de tamanha magnitude para cuidar das coisas temporais é dose pra leão.
Toma vergonha, pastorada. E Jesus ainda os chama de "anjo da igreja".
Não voto em pastor. Ele já inicia traindo a sua vocação, se é que tem.

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