13.12.08

O triunfo da cruz

"Falamos a sabedoria de Deus, oculta em mistério, a qual Deus ordenou antes dos séculos para nossa glória; a qual nenhum dos príncipes deste mundo conheceu; porque, se a conhecessem, nunca crucificariam ao Senhor da glória" (1 Coríntios 2.7,8).

René Girard, antropólogo, interpreta esta afirmação do apóstolo Paulo dizendo que “Satanás foi enganado pela cruz”: “A sabedoria divina previra, desde sempre, que o mecanismo vitimário seria virado do avesso, desvendado, revelado, desativado nos relatos da paixão, e que nem Satanás, nem as forças poderiam impedir esta revelação. Quando desencadeou o mecanismo vitimário contra Jesus, Satanás julgava proteger o seu reino, defender o seu bem, sem se dar conta de que fazia exatamente o contrário. Fazia, precisamente, aquilo que Deus desejava que fizesse.

Só Satanás podia por em ação, sem suspeitar, o processo de sua própria destruição [...] Deus permitiu a Satanás reinar, durante um certo tempo, sobre a Humanidade, prevendo que, chegado o momento, o venceria ao morrer na Cruz. Graças a esta morte, e a sabedoria divina sabia-o, o mecanismo vitimário seria neutralizado e, longe de se opor eficazmente a este fato, Satanás participa nele sem o saber”.

Girard entende que Satanás aprisiona os homens num sistema de perseguições e sacrifícios, atados a uma necessidade de encontrar bodes expiatórios para suas culpas. Mas enquanto agia por trás do processo que levou Jesus à Cruz, isto é, empurrando uma vítima inocente ao sacrifício, o próprio Satanás pôs sua verdade à disposição dos homens, isto é, desmascarou sua própria mentira, tornou a verdade de Deus universalmente legível.

A “verdade de Deus” revelada na cruz de Cristo pode ser decomposta em duas afirmações. A primeira é que toda violência cometida em nome de Deus é injustificada, pois o sofrimento da cruz é o preço que Jesus aceita pagar para que Deus e a violência se afastem um do outro definitivamente. Jesus Cristo é a única e última vítima sacrificada pela culpa humana.

A segunda é que toda exigência de sacrifício em nome de Deus é injustificada, pois a cruz anula definitivamente a necessidade de fazer vítimas para que a ordem seja estabelecida e ou mantida. O sacrifício de Jesus Cristo na cruz do Calvário desacredita e torna inútil todo outro sacrifício. É por essa razão que a defesa das vítimas se tornou sagrada. Um inocente foi morto de uma vez por todos, para que ninguém, jamais, fosse morto ou sacrificado em nome de Deus ou da ordem. A ordem, agora, se impõe pela defesa das vítimas. Pois Deus se fez um com as vítimas do mal e, no Cordeiro que foi morto e ressuscitou ao terceiro dia, triunfou por toda a eternidade.

Ed René Kivitz, no site da Ibab.

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2 comentários:

berna disse...

Como diz um hino: eu amo a mensagem da Cruz.

ViDéa disse...

Não percebo assim como René Girard e, aparentemente, Mr Ed, o enredo da paixão de Cristo. Satanás estava entre os primeiros que ouviram "a mensagem da cruz", a que a teologia chama "o proto-evangelho" (Gen 3:15).
Satanás, the loser, sabia exatamente o que lhe estava aguardando.
Os Renés estão equivocados.

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