25.1.09

Amem, amém?

Pilar del Río, mulher do escritor português José Saramago, afirmou numa entrevista concedida a certo jornal espanhol que, em sua opinião, o ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1998 escrevia para ser amado. “José gosta muito de ser amado. E mais, cheguei à conclusão que os escritores escrevem para ser amados”.

Lúcio Cardoso, autor de Crônica da Casa Assassinada, não sei se em tom de brincadeira ou a sério, costumava dizer que escrevia porque não tinha olhos verdes. Fernando Sabino alertava aos leitores que não escrevia por saber, mas para ficar sabendo. E Drummond confessava que era impulsionado a botar versos no papel não por ver as coisas de certa maneira, e sim por sentir-se impossibilitado de vê-las de outra maneira qualquer.

Acho, entretanto, que foi Pilar del Río quem nos deu a melhor resposta: os escritores escrevem para ser amados.

E não é, afinal, o que todos queremos?

Aquele personagem do filme de Spielberg, em Inteligência Artificial, tão bem representado por Haley Joel Osment — o menino robô que, como um Pinóquio da ficção científica, queria virar gente de verdade — não buscava apenas ser amado?

Não buscamos apenas ser amados quando fazemos algo para chamar a atenção dos nossos pais, obter a aprovação da professora, tirar as melhores notas da classe, conquistar a mais bela jovenzinha da vizinhança, receber um eloquente elogio do patrão, alcançar uma graduação universitária, ouvir juras de companheirismo e fidelidade ao pé do altar, ganhar um carinho espontâneo dos filhos, pintar um quadro, rascunhar umas rimas, compor uma canção, marcar o gol da vitória, subir ao podium, acolher os aplausos da platéia?

Não é o que desejam todos, enfim, do berço à campa, nas metrópoles e aldeias, nos condomínios e cortiços, nas praias e serras, nas estradas e calçadas, nos mosteiros e presídios, nos meretrícios e templos, em meio à turba ou perdidos no deserto, ser amados, amados a valer, amados com amor sincero e, de preferência, incondicional?

Queremos todos o amor que se revela no buquê de rosas, na caixa de bombons, no jantar à luz de velas, no abraço incontido, no beijo inesperado, no aceno da janela, no sorriso gratuito, na mão estendida, no silêncio solidário, no pão compartilhado, no choro de despedida.

Queremos todos ser amados. E que nos amem e admirem. Amem e chorem de saudade. Amem e suspirem fundo. Amem e enviem cartões. Amem e recordem. Amem e não partam. Amem e retornem. Amem e recitem poemas. Amem e façam serenatas. Amem e ofereçam a lua. Amem e contem estrelas. Amem e ouçam. Amem e compreendam. Amem e perdoem. Amem e digam que amam. Amem muito, amem sempre, amem e amem. Amém.

Carlos Novaes

Leia +

Nenhum comentário:

Blog Widget by LinkWithin