Por Pedro Doria:
Pois aconteceu: em sua primeira entrevista (transcrição em inglês) para a televisão, o presidente norte-americano Barack Obama optou pela rede Al Arabya. Não falou a seus compatriotas ou aos europeus ou mesmo aos israelenses. Falou ao mundo árabe.
‘Nós americanos não somos seus inimigos’, disse Obama. O presidente falou longamente sobre o conflito entre Israel e Palestina. Reiterou que os EUA têm total interesse na segurança de Israel, mas reconheceu que a situação de vida dos palestinos não melhorou em nada ao longo dos últimos anos. Para Obama, um acordo de paz só sairá se a conversa abandonar as questões do passado e focar no futuro. ‘Uma criança na Palestina estará melhor após o acordo?’, ele se perguntou. ‘Será capaz de construir um futuro para si? E uma criança em Israel terá maior segurança para viver?’
George W. Bush falava vez por outra aos árabes, mas seu discurso vinha na forma de promoção da democracia. Obama não seguiu por aí – até porque, nos últimos anos, norte-americano que fala em promoção de democracia no mundo árabe não tem credibilidade. Obama preferiu apresentar um bom acordo não como aquele em que leva a um regime democrático, mas um em que as crianças de ambas as partes saem com um futuro melhor pela frente.
Falar prioritariamente ao povo árabe é um gesto ousado.
‘O governo dos EUA fará uma distinção clara’, disse o presidente, ‘entre organizações como a al-Qaeda, que empregam a violência e o terror, e grupos com os quais não concordamos. É perfeitamente possível que discordemos mas mantenhamos o respeito uns pelos outros. Só não respeitamos grupos terroristas que matam civis inocentes.’
A al-Qaeda vem martelando no governo Obama bem antes da posse. ‘É o negro manso’, sugeriu Ayman al-Zawahiri logo após a eleição. Apresentaram homens libertos de Guantánamo que estão em seus quadros terroristas. O grupo de Osama bin-Laden vem se empenhando numa campanha de propaganda, no Oriente Médio, para pintar o novo presidente dos EUA como um igual a todos os que o antecederam, apesar do sobrenome Hussein e da cor da pele negra.
A al-Qaeda não é apenas um grupo terrorista: é, também, uma força política que disputa o afeto de um eleitorado específico. São os homens e mulheres sunitas. A al-Qaeda tem um objetivo político: a instalação, em todo o mundo muçulmano, de um califado que siga uma vertente particularmente rígida da lei islâmica. Neste sentido, alimentar o ódio ao inimigo externo é sua arma para manipulação deste eleitorado. Obama é, do ponto de vista de imagem, uma ameaça séria.
No momento em que decidiu falar aos árabes em sua primeira entrevista, foi esta briga política que Obama comprou.
Fonte: Weblog
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