Zeca Baleiro considera que a reforma é uma “estupidez”, ao contrário de outros artistas que não vêem tanto problema
Músicos brasileiros e um português comentam o que pensam sobre as novas regras
A nova norma ortográfica da língua portuguesa pode dar origem a um dos títulos mais esquisitos da Música Popular Brasileira. “Acho que dá pra fazer uma canção ultrarromântica, algo como ‘A Paranoia da Jiboia com Enjoo’”, diz o músico e compositor Zeca Baleiro, brincando com o fim do acento agudo nos ditongos abertos éi e ói das palavras paroxítonas e do acento circunflexo em palavras terminadas em ôo. O impacto do acordo entre os países de língua portuguesa sobre a música ainda é mínimo, já que não atinge a parte fonética. Mas compositores como Baleiro têm opinião forte a respeito do assunto. “Acho horrível voo, perdoo, leem, assembleia, jiboia, Coreia. Fica bizarro. A única coisa que aplaudi foi o fim do trema, já estava obsoleto”, afirma ele, para quem a reforma é uma “estupidez”.
Nasi, ex-vocalista do IRA!, acha a reforma válida, mas diz que, para os compositores, a principal mudança será a diminuição dos erros ortográficos. “Geralmente uma letra de música não tem qualidade literária fora da melodia. A MPB não é uma arte de nível literário”, pensa ele. “Neste sentido, musical, a reforma não tem impacto algum.” Segundo Nasi, com a incorporação das letras K, W e Y ao alfabeto, ficará mais fácil aportuguesar as palavras de origem inglesa que já estão no vocabulário dos jovens. “E a relação da escrita com a internet fatalmente vai passar para a forma cotidiana”, prevê, ressaltando que isto é uma coisa boa. “Assim como Adoniran Barbosa fez há muitos anos, e agora o rap e o funk fazem, que absorveram em suas letras a forma errada de algumas palavras.”
Sydnei Claudio (“sem acento mesmo”) Thomazzi, 57 anos, o Simbad do grupo Demônios da Garoa, concorda com Nasi. “O rap tem todo um palavreado e uma linguagem que reflete a tribo à qual pertencem os músicos. A língua ganha com isso”, defende. Os Demônios da Garoa são justamente conhecidos por utilizar em suas composições palavras do modo que são pronunciadas pelo povo em vez da norma culta. “O Adoniran Barbosa dizia que a gente podia até falar errado, mas tinha que saber o certo.” Sobre o acordo, acha que “quanto menos acento tiver, melhor. O que vai importar é o sentido de um texto, a essência.” A extinção do acento é apoiada por Tom Zé. “Pode tirar o acento de uma vez por todas, só atrapalha”, declara. Em 2003, ele lançou o disco Imprensa Cantada, com “Língua Portuguesa”, cujos versos mostravam a dificuldade em compreender o idioma e exaltava a diversidade. “Quando me sorris, visigoda e celta, Dama culta e bela (...) Mel e amargura, fatias de medo, vinho muito azedo (...) com dores me serves.”
Fonte: Bem Paraná
2 comentários:
EStou com o Zeca... que droga de reforma...
também acho estupidez e perda de tempo essa reforma!
estou com o zeca!
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