Acabo de ler o já famigerado livro de William P. Young. Quase bati meu próprio recorde de leitura, provavelmente em razão de dias de puro descanso nessa última semana de férias.
Como primeiras palavras, digo que gostei da capa. Na medida em que vamos lendo a obra, a figura ilustrativa vai como que tomando corpo, significado. Ainda na capa, lê-se o nome da editora, Sextante; e uma categoria literária: ficção. Isso levou-me a alguns pensamentos: (1) já está se cumprindo o texto que profetizava sobre as pedras clamarem em nosso lugar (Lc 19.40), (2) ainda carecemos de alertas para não confundirmos verossimilhança com semelhança. Ah, se lêssemos mais romances...
É pena que nenhuma editora cristã tenha devidamente apostado nesse livro. Pontos para a Sextante que antevê um cristianismo com arte; que propagará um evangelho mais pós-moderno – mesmo com resvalos na tradição. No entanto, uma leitura um pouco mais atenta justificará o desinteresse das editoras confessionais, por exemplo a página 208. ou seja, ainda temos uma caminhada até chegarmos ao ponto de termos paz pré e pós leitura de um romance, de uma ficção.
Em se tratando d’A Cabana mesmo, acho que criei uma expectativa maior do que devia. Minhas emoções não tiveram o mesmo ápice de outros/as leitores/as.
A obra é bem escrita. Um texto que cativa. Nitidamente um quase roteiro de cinema. Nalguns momentos sentia como se uma câmera de vídeo estivesse com o zoom ‘ligado’, tal a riqueza de detalhes de cena. Porém, noutros momentos seria melhor o ‘microfone’ estar desligado.
Incomodou-me a nomenclatura dada à Trindade, embora um pouco compreensiva pelo contexto do enredo. Ele era Ela que depois (re)tomou sua ‘macheza’, e, assim, continuamos no gênero-mor. Num momento inicial o evangelho transcende a igreja para, depois, voltar ao molde de sempre. Algumas frases de efeito também apareceram (resposta certa x resposta viva). Não faltou o momento fantástico, característica que me atrai, sobretudo na literatura latino-americana. Mas o momento Chico Xavier foi duro de engolir (capítulos 11 e 16).
Eu recomendo a leitura até como contraponto às minhas impressões. Recomendo porque traz uma visão inovadora do que seja Deus. O Espírito Santo tem um bom papel e não fica só como uma espécie de auxiliar de serviços gerais no céu. Céu? Aquele cenário não é o céu.
Mas tenho medos. Não me surpreenderá se houver a publicação de um A Cabana 2, característica comum na arte norte-americana. Igualmente não será novidade se algum “iluminado” resolver escrever um livro com as ‘receitas para viver bem’ segundo A Cabana. Tampouco ignoro a possibilidade de encontrar um ‘A Cabana com propósitos’. Mais ainda: fico imaginando o estrago de uma obra dessas se cair nas mãos daqueles leitores que fazem da verossimilhança uma realidade. Basta lembrarmos dos devoradores do Frank Peretti ou da série apocalíptica do Tim LaHaye. O Apocalipse passou a ser desses autores e não de João. O evangelho agora é de quem? Seria de Jesus?
Por outro lado, admiro a ousadia de se grafar na própria obra que ela é assombrosa e tem uma qualidade literária, em vez de deixar essa tarefa aos leitores. Esta, parece-me, seria a melhor forma.
Quanto à proposta que o livro faz para ser adquirido e doado, eu faria isso com uma edição de bolso cujas páginas internas fossem do tipo jornal e com um acabamento mais simples. Dito de outra forma, cumpriria o pedido se me saísse mais barato.
Ah, o impacto deste texto visa ser estimulante, apesar de nenhuma qualidade literária.
Sinta-se estimulado a ler A Cabana. Ainda que eu não seja Michael W. Smith, nem Ricardo Gondim e muito menos o Gerson Borges, fica a sugestão.
Levi Nauter, no blog Anotações sobre um cristianismo
Leia +
5 comentários:
Ora, não parece óbvio que, se o livro tivesse sido publicado por uma editora cristã, a obra já sairia de cara carimbada como religiosa? O público que teria acesso a ela seria sensivelmente reduzido. Como por aqui mesmo costuma acontecer, os cristãos, sobretudo os protestantes, são caracterizados como uma cambada de ignorantes de mal gosto. Até C. S. Lewis seria visto com um certo desdém se houvesse apenas suas obras publicadas pelas editoras evangélicas. Ainda bem que a Martins Fontes assumiu a responsa de publicar títulos importantes.
Não se trata de pedras de clamam. São apenas as linhas tortas...
tem razão, wil. se o livro tivesse sido lançado por uma editora evangélica não obteria nem longe o mesmo patamar de vendas. consequentemente, vários leitores seriam privados de curtir a história legal.
diretor da mundo cristão, o mark carpenter descreveu em sua coluna na "ultimato" uma certa frustração ao descobrir que o livro já havia sido contratado por outra editora brasileira.
de forma geral, o segmento editorial cristão é pouco ágil na prospecção e raramente lança uma obra brasileira que faça sucesso. por isso, muitas optam pelo caminho manjado (e nem sempre bem-sucedido) de lançar algo que "fez sucesso nos eua).
pelo jeito, continuaremos a engolir "lindas" histórias s/ golfe e baseball... haja plasil. =)
Obrigado aos comentaristas, foi o registro de minhas impressões.
Até mais.
Pava, ainda estou atrás daquela entrevista que vc disse q conseguiu aí com o autor do livro. Vc postou no blog, mas eu não consegui abrir. há alguns dias venho tentando encontrar no arquivo mas sem sucesso ainda.
se puder me mande o link por favor.
Marcus VIEIRA
na mão, marcus.
está no link abaixo:
http://pavablog.blogspot.com/2009/01/entrevista-com-william-p-young.html
abs
Postar um comentário