- Como assim, gelo no mictório?!
- Assim, ué, várias pedras, uma montanhinha, tipo um mini iceberg.
- E por que eles colocam “tipo um mini iceberg” no mictório? Por causa do cheiro?
- Deve ser. O frio retém as moléculas, o odor não se espalha, sei lá...
- Que nojo!
- Nojo nada. Nojentas são aquelas cordinhas da descarga, que você vai percorrendo com os olhos, procurando a parte limpa, mas tá tudo preto. Já imaginou quantas...
- Ai, pára... Fala mais do gelo no mictório, que eu fiquei curiosa. Nunca imaginei uma coisa dessas.
- Lembra aquela churrascaria que a gente foi semana passada?
- Aquela cara?
- É. Pelo menos uns cinco reais do preço do rodízio eles devem gastar em gelo. Cê tinha que ver, um mictório de uns três metros de comprimento, cheinho! Parecia instalação da Bienal: Sem título, gelo sobre inox...
- Mas não derrete?
- Derrete, e isso que é legal! Você mira numa pedra e ela some num instante. Ou então pode fazer um risco, assim, daqui pra lá, de lá pra cá. Dependendo do aperto, dá até pra esculpir um Smile.
- Não acredito. Então vocês, quando vão ao banheiro...
- Pois é. Ser homem tem dessas vantagens.
- Grande vantagem...
- Vai dizer que você não tá achando legal?
- Eu tô é curiosa. Diz aí: se derrete tão rápido, como eles fazem quando vira tudo água?
- Sei lá, botam mais.
- Mas a gente nunca vê um mini iceberg passar sobre um carrinho de mão, pelo meio do restaurante.
- É verdade. Aliás, deve ser pra evitar isso aí que em alguns lugares os caras põem logo uma barra. No Frevinho, por exemplo...
- Tem uma barra de gelo dentro do mictório do frevinho?!
- Tem.
- E você nunca me disse nada.
- E por que diria?
- Porque é bizarro! Escuta, e com a barra ali, não respinga?
- Você tem que ter método, né? É tudo uma questão de ângulo. Tipo sinuca. Mas quando começaram com esse negócio de gelo, não faz muito tempo, a gente já vinha treinando há anos, empurrando bolotas de naftalina, partindo bitucas de cigarro...
- Como vocês são infantis.
- Somos mesmo.
- Aposto que se sentem poderosos derretendo cubinhos de gelo dessa forma.
- E você não se sentiria?
- Claro que não.
- Aposto que sim. Sabia que quando o Freud escreveu que as mulheres tinham inveja do pênis, ele deu como exemplo a nossa capacidade de apagar uma fogueira à distância, enquanto a mulher teria que se colocar em cima e ia acabar queimando a bunda?
- Onde o Freud escreveu isso?
- Não lembro. Chegando em casa a gente dá um google: “Freud + inveja + pênis + fogueira”.
- Vamos pedir a conta?
- Vamos. Deixa só eu ir no banheiro, antes.
- Cê já foi, aqui?
- Nunca.
Breve silêncio.
- Depois me conta?
- Pode deixar.
Antonio Prata
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28.2.09
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