Estancado o fluxo do rio de Heráclito; as águas que ladeiam a sombra onírica são tão serenas quanto infindáveis – e seus peixes e suas pedras de uma coloração segura, imunizada contra os efeitos alvejantes da correnteza que feneceu antes.
O pão que mastigou no escuro, já deitado, trigo e bruto suor, é sombra desvanecente; a ambulância que perfurava a madrugada com seus modos agudos é pálido rumor. Em sua boca as cáries ainda abraçam com ávidos tentáculos os gozos da matéria; ele, porém, sonha.
Ele tem os óculos no rosto, o que é nada – seus olhos imortais não conhecem a miopia. Na face etérea traz uma ou outra protuberância vã, verruga ou pinta. Com óculos e verrugas inúteis ele vê Moisés atravessando o mar, que se avermelha de humano sangue e vê Heitor domando cavalos e flamejando homens em Tróia.
Na suave escuridão de um canto ignoto do universo, por curiosa ironia divina, ele abraçou os homens como jamais havia abraçado.
Alysson Amorim, no blog Amarelo fosco.
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